Luzes, cores, microplásticos e metais poluentes: conheça o lado nem tão cintilante da purpurina
Composição química do glitter depende da cor e possui uma extensa lista com metais e elementos refletores como bromo e titânio
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Demorou, mas chegou. A festa mais esperada do ano no Brasil começa oficialmente este ano nesta sexta-feira, último dia de fevereiro, enchendo as ruas do país de música, brilho e alegria. E do bloco de rua à escola de samba, um dos itens mais usados para dar um toque especial a qualquer fantasia de carnaval é a purpurina.
Também conhecida como glitter, a purpurina é um conjunto de partículas minúsculas que refletem a luz e se prendem a praticamente qualquer superfície.
Mas, além da dificuldade em se livrar dela depois da folia, esse pozinho cintilante esconde um lado obscuro: é nocivo ao meio ambiente e levanta preocupações sobre impactos à saúde humana.
Equipe de pesquisadores, do Departamento de Química da PUC-Rio, conduziu um estudo detalhado sobre o glitter, publicado no Journal of Trace Elements in Medicine and Biology (Jornal de Traços de Elementos em Medicina em Biologia, na tradução livre).
Investigamos as concentrações de metais e outros elementos químicos presentes nesse material, além de como acontece a sua absorção pelo corpo quando entra em contato com a pele, e qual seu comportamento em ambientes aquáticos.
O que é o glitter?
A ideia para o estudo surgiu da preocupação com os microplásticos no ambiente, pois a maioria das purpurinas é composta, basicamente, por plásticos com dimensões menores que 5 milímetros. Ela é feita principalmente de polímeros como o polietileno (PE) e o cloreto de polivinila (PVC).
Mas, como esse pó é tão colorido e cintilante, pensamos que também poderia conter corantes à base de metais, que refletem a luz e por isso costumam dar esse efeito vibrante. O problema desses pigmentos é que eles adicionam um risco extra de contaminação, tanto para o ecossistema quanto para a saúde humana, pelo contato com a pele.
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Embora os estudos sobre os impactos de microplásticos no ambiente ainda sejam relativamente novos, os efeitos nocivos de certos metais já são amplamente documentados.
No entanto, a regulação desses compostos ainda é limitada para muitos produtos, e mesmo quando há legislação, a fiscalização pode não ser efetiva, considerando a grande quantidade de novos itens lançados no mercado a todo instante. Assim, para esse estudo, compramos amostras de glitter vermelho, azul e verde em lojas comerciais no Rio de Janeiro, que analisamos no laboratório.
De acordo com nosso estudo, a composição química do glitter depende, principalmente, da cor. De fato, são usados metais e outros elementos químicos refletores.
As amostras de cor verde tiveram maior concentração de bromo (123 mg/kg), enquanto as vermelhas continham mais titânio (116 mg/kg). Embora o metal titânio não seja responsável pela cor vermelha, ele tem um alto índice de refração, aumentando a intensidade e brilho.
Além disso, o titânio, especialmente na forma de dióxido de titânio (TiO₂), é muito empregado como corante branco, bloqueador solar e aditivo de alimentos, mas seus efeitos tóxicos a humanos ainda são pouco conhecidos, sendo considerado atualmente como um poluente emergente, afetando principalmente ambientes marinhos.
Apesar disso, os níveis de todos os metais encontrados nas amostras de glitter analisadas estavam dentro dos limites de segurança estabelecidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Porém é importante ressaltar que, mesmo elementos considerados inofensivos ou de baixa toxicidade, ainda podem causar desequilíbrios em ecossistemas e organismos quando estão presentes em excesso, pois podem interagir com outros elementos, causando desequilíbrios químicos nos sistemas vivos.
Também simulamos situações comuns de exposição, como o contato com a pele e com o suor humano. As concentrações de metais e metalóides liberadas pelo glitter nesse cenário não foram suficientes para apresentar um risco imediato à saúde, principalmente porque a quantidade usada por cada pessoa não costuma ser muito grande. Porém, não se pode garantir que não existam riscos de intoxicação caso alguém pinte uma grande área do corpo com glitter. Além disso, a possibilidade de outras vias de exposição, como a ingestão acidental ou a inalação de partículas, ainda precisam ser mais estudadas.