O negócio de R$ 350 milhões da Chevron: a compra de 9 blocos da Foz do Amazonas que vai decidir a batalha pelo futuro
Em um leilão de quase R$ 1 bilhão, a gigante americana liderou a aquisição de blocos da Foz do Amazonas, mas agora enfrenta uma batalha judicial e ambiental para conseguir perfurar na nova e polêmica fronteira de petróleo do Brasil

O leilão de exploração de petróleo realizado em junho de 2025 reacendeu a disputa pela Margem Equatorial brasileira e colocou os blocos da Foz do Amazonas no centro de uma batalha bilionária. A gigante norte-americana Chevron, em parceria com a chinesa CNPC, emergiu como uma das grandes vencedoras, arrematando nove desses blocos e sinalizando uma forte aposta no potencial da região.
No entanto, a vitória no leilão é apenas o primeiro passo de um caminho longo e incerto. A aquisição dos blocos da Foz do Amazonas coloca a Chevron no epicentro de um conflito que opõe a promessa de uma nova província de petróleo a severos riscos ambientais e a uma forte oposição na justiça e na sociedade, que podem impedir o projeto de sair do papel.
O leilão de junho de 2025: um sucesso financeiro, mas com interesse concentrado
O 5º Ciclo da Oferta Permanente da ANP, realizado em 17 de junho de 2025, arrecadou um total de R$ 989,2 milhões em bônus de assinatura. O interesse do mercado, no entanto, foi altamente seletivo. Dos 34 blocos vendidos, 19 estavam na Bacia da Foz do Amazonas.
Essa bacia foi a grande estrela do evento, respondendo por 85% de toda a receita arrecadada. A disputa ficou concentrada entre dois consórcios de peso: de um lado, a Petrobras se uniu à ExxonMobil e arrematou 10 blocos. Do outro, o consórcio liderado pela Chevron com a chinesa CNPC levou os 9 restantes.
A aposta da Chevron: por que a gigante americana investiu R$ 350 milhões nos blocos da Foz do Amazonas?
A entrada agressiva da Chevron, que sozinha desembolsou R$ 350 milhões em bônus, marca o retorno de grandes petrolíferas internacionais a essa fronteira. A estratégia é clara: garantir uma posição antecipada em uma área que, segundo geólogos, é análoga à vizinha Bacia da Guiana-Suriname, onde foram feitas descobertas de petróleo gigantescas.
Ao se associar à CNPC, a Chevron divide os altos riscos e custos de uma exploração em águas ultraprofundas e em um ambiente politicamente sensível. A aposta é que o potencial de retorno justifica o risco.
A batalha nos tribunais: a ação que ameaça paralisar o leilão
A euforia do leilão, no entanto, já enfrenta seu primeiro grande obstáculo. Cinco dias antes do evento, o Ministério Público Federal (MPF) do Pará entrou com uma ação na justiça pedindo a suspensão da oferta dos blocos da Foz do Amazonas.
O MPF argumenta que o leilão foi ilegal por não ter sido precedido de dois estudos obrigatórios: uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS), que analisa os impactos em toda a bacia, e a consulta prévia a povos indígenas e comunidades tradicionais que podem ser afetados, como determina a lei. A ação continua em andamento e pode anular os resultados do leilão.
O “Leilão do Juízo Final”: os riscos para os Recifes da Amazônia e comunidades tradicionais
A oposição ao projeto é forte e vai além dos tribunais. Uma coalizão de ONGs, como Greenpeace e WWF, apelidou o evento de “Leilão do Juízo Final”, alertando para os riscos ambientais. A principal preocupação é com o Grande Sistema Recifal Amazônico, um ecossistema único que poderia ser devastado por um vazamento de óleo.
O precedente para essa preocupação é o do próprio IBAMA. Em maio de 2023, o órgão negou a licença de perfuração para a Petrobras em um bloco vizinho, o FZA-M-59, citando falhas nos estudos e o risco inaceitável para o meio ambiente.
Ganhar o leilão é só o começo: o longo caminho até a perfuração
Mesmo que supere os desafios na justiça, a Chevron ainda enfrentará um longo e rigoroso processo de licenciamento ambiental no IBAMA para cada etapa do projeto. A experiência da Petrobras mostra que obter essa licença pode levar anos e não tem garantia de sucesso.
A situação cria um paradoxo para o Brasil. Ao mesmo tempo em que promove a exploração de uma nova fronteira de combustíveis fósseis em uma área sensível da Amazônia, o país se prepara para sediar a conferência do clima da ONU, a COP30, em Belém. A disputa pelos blocos da Foz do Amazonas é, portanto, uma batalha que definirá não apenas o futuro energético, mas também a credibilidade ambiental do Brasil no cenário global.