Queda de braço entre Lula e mercado não dá sinais de trégua, analisam especialistas
Presidente e agentes financeiros tiveram embates ao longo do ano, com ênfase no cenário da apresentação e avaliação do pacote fiscal
A queda de braço entre Luiz Inácio Lula da Silva e o mercado não dá sinais de trégua em um futuro próximo, analisam especialistas econômicos. O impasse ganhou novos contornos com o pacote fiscal anunciado pelo governo federal. Se por um lado há indicadores nacionais com resultados positivos, por outro, existe a avaliação de um ambiente fiscal em crise. E os movimentos de críticas entre os atores devem continuar.
“Não há dúvida de que os indicadores melhoraram, mas há uma parte que está negativa nesse final de ano, principalmente com a tempestade perfeita que é o cenário com a alta do dólar. Não vai ter paz em breve. Mas a questão é: quem perde com essa briga é o país. Em termo estrutural, os bons índices que devem ser comemorados e também a regulamentação da reforma tributária. Na área conjuntural a perspectiva de crescimento econômico ainda maior. O problema é que com as discussões, os louros das medidas, evaporam-se, perdem o brilho”, disse o economista e professor da UnB (Universidade de Brasília) César Bergo.
As críticas de Lula, do governo e do PT se concentram em Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central) indicado por Jair Bolsonaro (PL). O principal argumento é a alta taxa de juros, atualmente em 12,5%, uma das maiores do mundo. O índice faz com que a atividade econômica e o mercado de trabalho sejam desacelerados, a fim de provocar um recuo na inflação, que está equilibrada.
O mandato do economista à frente do órgão monetário se encerra neste mês e, a partir de janeiro de 2025, o posto será comandado por Gabriel Galípolo, indicado pelo atual chefe do Executivo.
Diante desse cenário, o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e economista Hugo Garbe acredita na realidade positiva dos índices econômicos, mas afirma que as críticas de Lula ao presidente do BC, principalmente o futuro, devem ser comedidas.
“O governo não vai ter mais essa desculpa, de que o problema é o Banco Central. Se o presidente continuar criticando excessivamente o Galípolo, que ele indicou, vai ser um tiro no pé. Então a narrativa deve se encerrar em determinado momento, claro, dependendo também do perfil que o futuro chefe do BC assumir”, avalia.
Caem na conta de Lula os seguintes resultados econômicos: redução de 40% da extrema pobreza, redução de 20% no desemprego, aumento de 8,3% de ganho real no rendimento médio, crescimento de mais de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), aumento de 1,83 milhão de novas vagas de empregos formais, entre outros.
No entanto, o mercado financeiro, que argumenta que há necessidade de contenção de gastos públicos. Em relatório, o Tesouro Nacional apontou que o crescimento dos gastos obrigatórios e de despesas não obrigatórias, como emendas parlamentares, poderá levar o Executivo a enfrentar um apagão em 2032.
Na tentativa de solucionar o quadro fiscal, o governo apresentou um pacote de revisão de gastos. Nos cálculos do Executivo, o impacto seria de R$ 327 bilhões nos próximos cinco anos. Mas, com as alterações das propostas feitas pelos congressistas, a Fazenda estima uma redução de R$ 2,1 bilhões na economia em dois anos. Entre os exemplos estão correção das regras do salário mínimo e acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a transmitir o apelo de Lula para que os projetos não fossem modificados.