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1 ano após tragédia no Sul, 1 em cada 3 cidades segue sem proteção contra enchentes

Pesquisa mostra que investimentos feitos precisam mais que dobrar para a alcançar a universalização até 2033

Um a cada três municípios brasileiros (32,49%) não possuem qualquer tipo de sistema de drenagem de águas pluviais, estrutura essencial para prevenir impactos e desastres ambientais, como deslizamentos e enchentes. Os dados, divulgados pelo Instituto Trata Brasil, refletem a carência nos investimentos feitos pelas cidades ao longo dos anos.

Segundo a pesquisa, entre 2017 e 2023, foram gastos, em média, R$ 10 bilhões ao ano, com oscilações ao longo do tempo, o que é considerado insuficiente pelo governo federal.

Cálculos do Ministério do Desenvolvimento Regional indicam que, entre 2021 e 2033 e a preços de dezembro de 2021, seriam necessários investimentos de R$ 250,5 bilhões. O valor corresponde a R$ 250,0 bilhões a preços de junho de 2023. Ainda conforme o estudo, é preciso aumentar o valor e investir R$ 223,3 bilhões, ou R$ 22,3 bilhões ao ano.

“Seria necessário mais do que dobrar o atualmente praticado. Considerando o valor por habitante, o investimento também deve mais do que dobrar, indo de R$ 43,79, realizado em 2023, para R$ 117,01″, diz o documento.

Dos locais analisados, que somam 4.958 0 89% dos 5.570 municípios brasileiros, 40,44% disseram possuir sistemas exclusivos para drenagem de águas pluviais, enquanto 12,59% operavam sistemas unitários, que funcionam com esgoto e drenagem em uma única rede.

Além disso, 14,48% dos municípios informaram operar sistemas combinados, com configurações exclusivas e unitárias em diferentes trechos.

Vale ressaltar que o sistema de drenagem de águas pluviais ajuda no controle e coordenação da água da chuva, contribuindo para diminuir os impactos que o volume de água pode causar.

Entre 1991 e 2023, por exemplo, é estimado que o Brasil tenha registrado 25,94 mil eventos hidrológicos de desastres, sendo que nos últimos 15 anos, 74% dos fenômenos eram relacionadas a chuvas intensas.

Durante o período, os desastres resultaram em 3.464 mortes e causaram prejuízos superiores a R$ 151 bilhões, sem considerar os impactos do desastre ocorrido no estado do Rio Grande do Sul em 2024. Neste último caso, as enchentes afetaram mais de 96% do estado e mataram ao menos 180 pessoas.

“A recorrência desses desastres expõe a fragilidade da infraestrutura urbana e evidência a necessidade de integrar a drenagem e o manejo de águas pluviais ao planejamento do saneamento”, aponta o instituto.

A pesquisa revela, ainda, que apenas 263 municípios (5,3%) possuem Planos Diretores de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais, essencial para o planejamento estratégico e a redução de riscos associados a eventos hidrológicos extremos.

Ou seja, dos 4.958 municípios com informações para o módulo de Águas Pluviais do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico, 4.695 declararam não possuir a ferramenta.

4.255 mortes e prejuízo de R$ 500 bi

Nos últimos 20 anos, 4.255 pessoas morreram em razão de desastres ambientais no Brasil, e outras 8 milhões ficaram desabrigadas, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil. O índice representa uma perda econômica de R$ 24 bilhões e 212 mortes por ano.

Os dados englobam casos de chuvas intensas, estiagens, inundações e ondas de calor. Minas Gerais, Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Distrito Federal se destacam entre as unidades da federação com mais pessoas afetadas.

Há dois anos, o Brasil registrou o maior número de mortes causadas por desastres naturais desde 2011, quando 957 óbitos foram registrados. Apenas em 2022, o país teve um prejuízo de mais de R$ 68 bilhões. Nesses 20 anos, o prejuízo chega a quase R$ 500 bilhões.

Já nos últimos dez anos, o número de reconhecimentos federais de emergências por desastres naturais no Brasil saltou de 1.189 para 2.197, segundo dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres que consideram o período entre 2014 e 2023.

O índice representa aumento de 84% nas solicitações reconhecidas pela União. Estiagem, tempestades, inundações e enxurradas foram os desastres que mais atingiram os estados nesse intervalo.

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