Brasil pode liderar mundo em aumento de carga tributária até 2050, com 9,8 pontos, alerta estudo do Instituto Esfera
“Gastos tributários não são vilões, mas precisam de regras”: Esfera defende avaliação contínua para focar desonerações com resultados sociais

Um estudo do Instituto Esfera, projeta que o Brasil será o país com o maior aumento de carga tributária até 2050, atingindo um salto de 9,8 pontos percentuais. Esse avanço coloca o país em posição crítica diante de economias emergentes, em um cenário no qual a tributação já consome mais de um terço do PIB nacional.
Segundo o levantamento, o Brasil ultrapassou em 2024 a marca de 34% do PIB em impostos, enquanto os chamados gastos tributários benefícios fiscais e renúncias superam 4% do PIB. Para os especialistas, a ausência de governança clara na concessão dessas vantagens ameaça ampliar ainda mais a pressão fiscal nas próximas décadas.
Brasil entre os líderes de tributação
O estudo lembra que o Brasil já figura entre as economias emergentes mais pesadamente tributadas, em contraste com outros países em desenvolvimento que buscam manter sistemas fiscais mais enxutos para atrair investimentos.
A tendência de alta até 2050 reforça o alerta para empresários e trabalhadores, que podem sentir o peso no consumo, na renda e na competitividade do país.
Para Camila Funaro Camargo Dantas, CEO do Instituto Esfera, os gastos tributários não são “vilões” por natureza, mas precisam ser instrumentos claros de política pública, com início e fim definidos. Caso contrário, o país corre o risco de sustentar um sistema que gera custos sem entregar contrapartidas sociais efetivas.
O peso das renúncias fiscais
O relatório destaca que o Simples Nacional responde por cerca de 22% das renúncias do governo federal, seguido por incentivos ao setor agropecuário, benefícios no IRPF e programas de desenvolvimento regional.
Em alguns casos, como na pasta da Agricultura, os gastos tributários chegam a ser cinco vezes maiores que o orçamento direto do ministério.
Esse desequilíbrio reforça a crítica do estudo: o Brasil carece de mecanismos robustos de transparência, revisão periódica e critérios de eficiência para avaliar se essas políticas realmente entregam retorno à sociedade.
Reformas como saída
Uma possível solução apontada pelo levantamento está na regulamentação da reforma tributária, em andamento até 2028.
Entre as propostas, está a criação da Lei Geral dos Gastos Tributários (LGGT), que limitaria os incentivos a 2% do PIB a partir de 2027 e criaria regras para concessão, avaliação e redução gradual desses benefícios.
O economista Pedro Fernando Nery, autor da pesquisa “Gastos tributários em cenário de carga tributária crescente: o desafio de reformar”, lembra que esse ajuste seria essencial para evitar que a elevação da carga tributária comprometa ainda mais a eficiência econômica e a justiça fiscal no país.
A perspectiva de que o Brasil lidere o aumento da carga tributária até 2050 acende um sinal de alerta para sociedade, governo e setor produtivo.