Crítica

“Os Caras Malvados 2” deixa a franquia mais estilosa, mais exagerada e melhor

Com animação mais criativa, filme enfim responde o chamado de sua premissa

O problema do primeiro Os Caras Malvados é que tudo em sua premissa pede por um filme com estilo. Temos os animais mais perigosos – Lobo, Cobra, Tarântula, Tubarão e Piranha – como um grupo de ladrões dignos de Danny Ocean, roubando troféus, bancos e tudo que se pode imaginar numa narrativa que começa com uma homenagem a Pulp Fiction. Mas, especialmente na animação e na trama, nada passava do básico. Os Caras Malvados 2 parece ter como missão se arriscar mais.

Para começo de conversa, esse filme – tal qual Gato de Botas 2As Tartarugas Ninja: Caos Mutante e outros – deve muito aos Aranhaversos. Se o primeiro Caras Malvados tinha alguns toques de rabiscos e 2D aqui e ali, a continuação dobra a aposta na mistura técnicas de animação diferentes, inserindo texturas chapadas, efeitos coloridos e outros truques para enfim desenhar um espetáculo tão descolado quanto um filme sobre o charme dos ladrões precisa ser.

É um avanço crucial, porque apesar de ter uma proposta mais cativante – os Caras Malvados são forçados a voltar para o crime com um último serviço quando se vêem chantageados por um trio de ladras novo na cena – a temática dessa história é, em grande parte, uma repetição do filme anterior, com o quinteto protagonista preso entre a dificuldade de viver uma vida dentro dos parâmetros da lei e a rebeldia dos velhos tempos de furtos e esquemas.

Os acontecimentos da continuação – que troca as referências a Tarantino pelo primeiro encontro de Clarice e Hannibal em O Silêncio dos Inocentes e tem um clímax de fora deste mundo – são bem mais empolgantes, mas se o longa anterior ainda tentava discutir alguma espécie de dilema, este está contente em divertir e surpreender.

E, tudo bem, porque Os Caras Malvados 2 consegue isso, abraçando os exageros de seu mundo para criar episódios que brincam com nossas expectativas. O roteiro de Yoni BrennerEtan Cohen e Aaron Blabley não chega a ser imprevisível, mas a direção de Pierre Perifel e JP Sans, junto com o talentoso time de animadores da DreamWorks, transforma cada cena num banquete, e você está sempre ansioso para ver o que será a sobremesa.

Ver como Lobo e seus amigos vão se safar de um ou outro beco-sem-saída se torna algo constantemente agradável. Mesmo que o destino final não seja tão misterioso, a rota de fuga tipicamente passa por uma explosão de criatividade colorida e dinâmica.

Longe de ser um novo passo tecnológico, Os Caras Malvados 2 mostra como o meio da animação se beneficia de fugir do 3D que dominou o cinema do tipo por duas décadas. Há sequências do terceiro ato do filme, como aquela em gravidade zero, que beiram o psicodélico. Se o filme tem instâncias divertidas mas uma moldura simples, é essencial que tudo seja pintado da melhor maneira.

O sucesso individual de cada situação, por si só, não é suficiente para elevar a narrativa, mas o visual? Ele não só justifica os movimentos mais inusitados do enredo – incluindo uma conclusão que joga o eventual Os Caras Malvados 3 para outro gênero cinematográfico – como nos deixa famintos por mais. A variedade posta em tela não compete com os melhores Além do Aranhaverso e A Família Mitchell, mas, graças a ela, Os Caras Malvados finalmente tem o estilo que deveria.

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