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O ataque do Império

O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos

Por André Gustavo Stumpf – jornalista

A 2ª Guerra Mundial, quando o governo de Washington percebeu que os nazistas poderiam vencer o combate no norte da África e avançar para invadir o nordeste brasileiro, restaram três opções para proteger o Atlântico sul: mandar tropas para o nordeste do Brasil, fomentar uma revolução nacionalista como foi realizada no Panamá ou fazer um acordo com o governo Vargas.

A solução do presidente Roosevelt foi fazer acordo com o governo brasileiro. A empresa Pan American foi encarregada de construir aeroportos no norte e nordeste brasileiro. A base aérea de Natal foi a maior das forças armadas norte-americanas fora de seu território antes da invasão da Europa.

Donald Trump jogou no lixo a tradição de bom entendimento entre Brasil e Estados Unidos. Sempre houve respeito às posições do outro, mesmo quando antagônicas. O Brasil, de um dia para outro, passou a ser o país mais atingido pelas tarifas impostas pelo bronzeado presidente dos Estados Unidos. E pior que em nome de um problema político: ele defende, com argumentos confusos, a permanência de Jair Bolsonaro na política brasileira, que estaria sendo injustamente punido numa suposta caça às bruxas.

Os bolsonaristas, de todos os tamanhos e quilates, vão pagar um preço muito elevado pela ação destrambelhada do presidente dos Estados Unidos. Neles vai pegar, com facilidade, o rótulo de entreguistas por terem fomentado a cizânia entre os dois países e prejudicado fortemente a economia nacional. Isso significa prejuízos financeiros e desemprego em larga escala.

O agronegócio brasileiro será fortemente punido pela ação de seus principais líderes. Não há desculpa para quem, no exterior, se une ao agressor em prejuízo dos nacionais. É uma traição pesada. 

A imposição de tarifas deveria ter uma justificativa econômica. No caso do Brasil, não possui. É apenas um capricho do presidente bronzeado que tenta proteger um candidato que perdeu as eleições e planejou um golpe de Estado que incluía o assassinato do atual presidente da República.

Haverá outros capítulos dessa densa novela, porque Trump avança e recua com facilidade. Age por cima da sua diplomacia, não ouve os conselhos do Departamento de Estado e ignora os embaixadores. Ele é a nova versão do Rei Luiz XIV, da França: “O Estado sou eu”.

Ferrovia bioceânica

Os governos do Brasil e da China assinaram, semana passada, memorando de entendimentos para iniciar os estudos destinados a produzir o audacioso projeto da ferrovia que deverá atravessar o Centro-Oeste e chegar ao Porto de Chancay, ao norte de Lima, no Peru. É uma aventura de bom tamanho. Coisa de mais de seis mil quilômetros de extensão, se de fato forem realizadas as conexões de Ilhéus, na Bahia, onde está sendo construído um novo porto.

É uma obra imensa e audaciosa. Vai atravessar a área mais pobre esquecida do Brasil, que será transformada em importante corredor de exportação e importação. É um meio de levar progresso ao noroeste brasileiro, região pobre e esquecida há séculos.

Os chineses pretendem colocar para funcionar o superporto que construíram no Peru, destinado a receber produtos do Centro-Oeste brasileiro e da costa do Pacífico da América do Sul.

No futuro, quando a ferrovia estiver concluída, o porto será utilizado para importações e exportações chinesas e de várias empresas que poderão se instalar em território peruano, ou ao longo da estrada de ferro, para aproveitar as vantagens de um porto aberto para os países da Ásia.

É difícil fazer previsões neste momento inicial, quando as primeiras estimativas começam a ser construídas. Mas é obra para mais de cinco anos, se não ocorrerem os tradicionais problemas de verba e desvios de recursos, esta ferrovia vai ligar o Brasil e de leste a oeste e fará o cruzamento com a norte-sul.

Ou seja, praticamente todo o território nacional estará ligado aos principais portos do Atlântico e do Pacífico. Brasil e China são hoje os grandes parceiros comerciais. Essa é uma obra que tem o poder de multiplicar o potencial da economia brasileira e seu poder exportador. 

O projeto previsto sai de Ilhéus, Bahia, passa por Mara Rosa, na Chapada dos Veadeiros, e segue para Lucas do Rio Verde, Goiás. De lá, caminha para Porto Velho, Rondônia, em seguida, Rio Branco, no Acre, e depois entra no território peruano. Até a cidade de Puerto Maldonado a dificuldade é a floresta tropical. A partir daí, inicia-se a subida da Cordilheira dos Andes, que pode ultrapassar quatro mil metros de altitude. Em seguida, a ferrovia chega a Cuzco. Daí, caminha para o norte em direção a Lima. O Porto de Chancay se situa a 80 km da capital peruana. A delegação chinesa andou pelo Brasil. Visitou Ilhéus e conheceu as obras da ferrovia que ligará aquela cidade a Caetité, no sertão baiano, parte desse grande projeto interoceânico.

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