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Tarifaço de Trump: entenda impacto econômico no Brasil da taxa de 50%

Taxação aos produtos brasileiros deve afetar exportações e competitividade do país

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que as exportações de produtos do Brasil para os Estados Unidos agora serão taxadas em 50%. A medida foi divulgada por meio de carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com essa nova taxa, o Brasil se tornou o país com as tarifas mais altas do mundo, aplicadas pelos EUA, entre as 22 estipuladas por Trump.

Professor de economia internacional na Hayek Global College, Maurício F. Bento explica que a imposição de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos EUA representa duro golpe para a economia brasileira. “Os EUA são um destino relevante das exportações brasileiras, atrás apenas de China e União Europeia”, destaca.


Trump, tarifas, Brasil e Bolsonaro

  • Trump tem ameaçado o mundo com a imposição de tarifas comerciais, desde o início do mandato, e tem dado atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil.
  • O presidente norte-americano chegou a ameaçar taxas de 100% aos países-membros do bloco que não se curvarem aos “interesses comerciais dos EUA”.
  • Após sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras.
  • Na quarta-feira (9/7), o líder norte-americano alegou que o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
  • A taxa de 50% imposta por Trump entrará em vigor a partir de 1º de agosto e será cobrada separadamente de tarifas setoriais, como as que já atingem o aço e alumínio brasileiros.
  • Em abril deste ano, o Brasil já havia sido atingido pelo tarifaço de Trump e teve os produtos taxados em 10%, inicialmente.

Segundo o professor, a medida de Trump pode gerar os seguintes efeitos para a economia brasileira:

  • reduzir drasticamente as exportações, afetando diretamente a balança comercial;
  • desestimular investimentos em setores exportadores;
  • gerar desemprego em cadeias produtivas voltadas ao mercado americano; e
  • aumentar a volatilidade cambial, pressionando o real e elevando custos de importação.

“Além disso, a medida tem forte componente político, sendo vista como uma tentativa de Trump de pressionar o governo brasileiro em meio à reunião do Brics, que ocorreu no Rio de Janeiro”, destaca o professor.

Setores mais afetados

Entre os setores da economia mais afetados, segundo Maurício, estão aqueles com maior exposição ao mercado norte-americano e que dependem de margens competitivas, como o agronegócio e a indústria.

Agronegócio

  • Café: os EUA são o principal destino do café brasileiro.
  • Carne bovina: os EUA são o segundo maior mercado, com mais de 500 mil toneladas exportadas em 2024.
  • Suco de laranja: quase metade das exportações brasileiras vai para os EUA.

Indústria

  • Aeronaves: a Embraer é fortemente dependente do mercado americano.
  • Autopeças e máquinas: produtos de maior valor agregado que perdem competitividade com tarifas elevadas.
  • Petróleo e derivados: lideram a pauta de exportações, com mais de US$ 2 bilhões em 2025.

Mineração e petróleo

O economista e doutor em Relações Internacionais Igor Lucena cita o caso do minério de ferro, uma das maiores fontes de receita do país, e cuja perda de competitividade nos EUA, segundo ele, pode gerar efeito cascata em toda a cadeia de mineração.

“O petróleo, especialmente o exportado a partir do Rio de Janeiro, também será afetado, uma vez que, apesar de ser uma commodity com preço internacional, as tarifas encarecem o produto final para o importador americano, o que pode levá-lo a buscar outros fornecedores”, destaca.

O advogado especialista em comércio exterior e logística Larry Carvalho ressalta que a “Embraer, no setor aeronáutico, pode sofrer impactos significativos, já que os EUA são o principal destino de suas exportações de alta tecnologia”.

Adequação contratual

Carvalho cita, também, os possíveis impactos diretos nos contratos de exportação e transporte marítimo, o que exigirá, segundo ele, “instrumentos jurídicos robustos para mitigar rupturas de mercado e mudanças geopolíticas”.

A imprevisibilidade gerada por medidas protecionistas, como as de Trump, reforça a importância de contratos bem redigidos, com cláusulas que protejam as partes contra eventos disruptivos, como tarifas inesperadas.

Reciprocidade

Até então, o governo brasileiro tem falado em utilizar a Lei da Reciprocidade Econômica para contrapor a investida de Donald Trump. A legislação aprovada pelo Congresso e sancionada por Lula em abril deste ano permite resposta institucional, que pode desencadear possível negociação.

O professor Maurício F. Bento pontua que Trump tem adotado um estilo “bate e negocia”, o que tem feito com que ele frequentemente volte atrás em suas medidas iniciais. Isso leva a crer, segundo ele, que o Brasil reagirá de forma ponderada, sabendo que ganhos podem ser obtidos de forma negociada.

Possíveis medidas de reciprocidade

  • sobretaxar produtos norte-americanos, como medicamentos, filmes, livros e bens industriais;
  • suspender acordos comerciais ou obrigações com os EUA;
  • rever patentes e direitos de propriedade intelectual, como royalties de medicamentos;
  • buscar novos mercados e acordos bilaterais para reduzir a dependência dos EUA;
  • sinalizar que prefere negociar, mas está juridicamente amparado para retaliar de forma proporcional;
  • flexibilizar regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), permitindo tratamento diferenciado a países que prejudiquem o Brasil;
  • autorizar medidas imediatas, como sobretaxas, suspensão de acordos e até cassação de patentes; e
  • fortalecer a posição negociadora do Brasil, mostrando que o país tem instrumentos legais para reagir.
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