
Quando Top Gun: Maverick chegou aos cinemas em 2022, foi um alívio para a indústria cinematográfica, que vivia um momento de crise e incertezas por causa da pandemia de COVID-19. A sequência do clássico Top Gun – Ases Indomáveis (1986) foi um sucesso, arrecadando mais de US$ 1,4 bilhão mundialmente – e, segundo Steven Spielberg, “salvou Hollywood”. O filme, que virou a maior bilheteria na carreira de Tom Cruise, também foi aclamado pela crítica, especialmente por causa de suas cenas de ação realistas, e recebeu 6 indicações ao Oscar – saindo vencedor da premiação como Melhor Som.
Como não são bobos nem nada, o diretor Joseph Kosinski ao lado do produtor Jerry Bruckheimer se reúnem novamente e pegam essa fórmula de sucesso de Top Gun: Maverick, trocando as aeronaves por carros de corrida e pisando no acelerador nas pistas de Fórmula 1 nos eventos do filme F1 (2025), protagonizado por Brad Pitt.
Qual é a história de F1?
m F1, depois de abandonar as pistas, o lendário piloto Sonny Hayes (Brad Pitt) é convencido a voltar a correr pelo seu amigo Ruben Cervantes (Javier Bardem) para apoiar Joshua Pearce (Damson Idris), o jovem novato da escuderia fictícia ApexGP. Disposto a todos os riscos, Sonny monta uma estratégia para fazer a equipe se tornar vitoriosa, para isso ele precisará do apoio da comissão técnica e de pessoas influentes do esporte, mostrando que a corrida vai muito além das curvas dos autódromos.
Nos últimos anos, tivemos vários filmes interessantes sobre automobilismo com cineastas renomados, incluindo Rush – No Limite da Emoção (2013), Ford vs. Ferrari (2019), Gran Turismo – De Jogador a Corredor (2023) e Ferrari (2023). Joseph Kosinski usa sua experiência em Top Gun: Maverick com a proposta de fazer o filme de corrida mais realista de todos os tempos. O resultado nas telonas é impressionante.
F1 segue os passos de Top Gun: Maverick como um filme de corrida realista e imersivo
O filme mergulha na adrenalina das pistas e coloca o espectador no cockpit como um simulador intenso de corrida no cinema, nos fazendo sentir na pele a velocidade e os riscos de cada volta. Tudo amplificado pelo trabalho sonoro focado em transmitir todos sons e barulhos que recriem a experiência de como é estar em um carro de Fórmula 1, incluindo uma trilha sonora eletrizante de Hans Zimmer.
É uma imersão ainda maior considerando que a produção tem parceria com a FIA (Federação Internacional de Automobilismo), então foram feitas gravações durante Grandes Prêmios, com participação de pilotos reais.

Nada disso seria possível sem um trabalho exaustivo nas filmagens. Seguindo os passos de Tom Cruise, Brad Pitt se arriscou de verdade nos bastidores de F1 ao lado de Damson Idris, pilotando de verdade carros de corrida após meses de treinamento com Lewis Hamilton – 7 vezes campeão de Fórmula 1 e produtor do filme. É assim que Joseph Kosinski consegue filmar as sequências de ação com realismo, em sua abordagem voltada para cenas práticas e pouco uso de efeitos digitais.
Se por um lado temos essa autenticidade nas cenas de corrida, não espere pelo mesmo com relação ao universo da Fórmula 1. O roteiro escrito por Ehren Kruger usa e abusa de facilitações narrativas e liberdades criativas com relação às regras do esporte, que nunca aconteceriam na vida real, mas fazem a trama ser possível. Isso não é necessariamente um problema, mas é bom calibrar as expectativas quando for assistir a produção – principalmente pela sua proposta realista.
Brad Pitt mantém vivo um drama esportivo sem profundidade nos personagens e cheio de clichês
F1 não foge dos clichês de filmes de esporte em Hollywood. Temos a história de superação pelo personagem de Brad Pitt e a equipe da ApexGP, assim como uma rivalidade envolvendo Sonny Hayes e Joshua Pearce, interpretado por Damson Idris.
O filme está mais preocupado com os aspectos técnicos das sequências de corrida e acaba sendo superficial na carga dramática de seus personagens. Mesmo assim, é muito interessante acompanhar o melodrama no arco de Brad Pitt. Com uma personalidade típica de um lobo solitário marrento, Sonny Hayes acaba conquistando aos poucos, principalmente quando vamos conhecendo melhor sua história de vida.

Após uma experiência traumática que acabou com sua carreira, Hayes não está apenas tentando superar as probabilidades sendo um piloto com idade avançada na Fórmula 1, mas correr é como se manter vivo para ele e uma necessidade de seguir em frente.
Os demais personagens não têm muita profundidade. Damson Idris encarna bem um piloto novato arrogante, e funciona pela dinâmica de intriga (e admiração) com Pitt, enquanto enquanto Javier Bardem é o carismático Ruben Cervantes, amigo de Sonny Hayes e dono da ApexGP.
O ponto mais decepcionante em F1 é no desenvolvimento de Kate McKenna, interpretada por Kerry Condon. Ela é diretora técnica da equipe, primeira mulher no cargo, e inicialmente é trabalhada com bastante personalidade própria, até que é totalmente desperdiçada para servir como interesse amoroso do protagonista, um clichê machista recorrente em personagens femininas de Hollywood.
No final das contas, é realmente Brad Pitt quem carrega qualquer interesse dramático presente na trama. Infelizmente, os demais acabam apenas girando em torno dele e de suas decisões. Mesmo assim, é prazeroso como o filme explora o lado dos bastidores da Fórmula 1, especialmente na equipe da ApexGP, em que o roteiro consegue trazer diversão pela relação dos personagens – e, obviamente, os conflitos – que movem a narrativa.
Vale a pena assistir F1?
Trocando Tom Cruise por Brad Pitt, F1 segue a fórmula de Top Gun: Maverick e faz um filme de corrida realista e imersivo, traduzindo nas telonas toda adrenalina e intensidade que é pilotar um carro de Fórmula 1. Por outro lado, o longa sofre com clichês de produções de esporte e falta de profundidade dos personagens, ainda que apresente uma dramaticidade interessante em seu protagonista.
O filme é uma opção divertida e cheia de adrenalina para quem gosta de esporte e Fórmula 1.
