‘Estilo kamikaze’: a tática norte-coreana na guerra da Rússia contra a Ucrânia
No fim de 2024, a Coreia do Norte enviou cerca de 11 mil soldados para ajudar as forças de Moscou; os norte-coreanos foram treinados para não serem detidos com vida
Como os soldados russos, os norte-coreanos que estão lutando por Moscou na região de Kursk recebem instruções de atacar uma área específica, mas, ao contrário dos nativos, têm de avançar praticamente sem o apoio de veículos blindados.
Ao atacar, não param para se reagrupar ou recuar como os parceiros locais normalmente fazem quando começam a ter muitos prejuízos, segundo militares ucranianos e oficiais norte-americanos; em vez disso, atravessam os campos coalhados de minas terrestres, mesmo sob fogo cerrado, e saem em levas de 40 ou mais. Se conquistam uma posição, não tentam mantê-la; preferem deixar para os reforços russos enquanto se retiram e se preparam para uma nova investida.
Além disso, desenvolveram táticas e hábitos peculiares: ao combater um drone, enviam um soldado como “isca”, de modo a permitir que os outros o derrubem. Se acabam se ferindo gravemente, são instruídos a detonar uma granada para evitar que sejam capturados com vida, segurando-a sob o pescoço, com uma das mãos no pino, aguardando a aproximação do inimigo.
Enviados para a Rússia para lutar ao lado das unidades moscovitas em Kursk, os norte-coreanos atuam basicamente como uma força de combate separada, de acordo com os ucranianos e norte-americanos, já que a língua, o treinamento e a cultura militar são totalmente diferentes.
“São dois Exércitos diversos, que nunca treinaram nem atuaram juntos; de resto, tem a cultura militar russa que, vamos dizer, não respeita muito as habilidades, as normas e as operações dos parceiros. Na grande maioria, os norte-coreanos são tropas de forças especiais, treinados para missões de alta precisão, mas os russos os estão usando como soldados rasos”, explicou Celeste A. Wallander, que até o dia da posse (20 de janeiro) era a secretária assistente do Pentágono para questões internacionais de segurança.
No fim do ano passado, a Coreia do Norte enviou cerca de 11 mil soldados para ajudar as forças de Moscou na zona meridional de Kursk, da qual os ucranianos capturaram uma fatia graças à invasão surpresa efetuada meses antes. Mas, como revelam os ucranianos e norte-americanos, desde o primeiro combate de que participaram, no início de dezembro, mais de 30% dos norte-coreanos já foram mortos ou feridos.
De fato, em meados de janeiro, o general Oleksandr Syrsky, chefe do Exército ucraniano, anunciou que a tendência continuava, mas advertiu: “Eles são corajosos, muito bem-treinados e estão extremamente motivados”. Um oficial da defesa norte-americana garantiu que novos reforços chegarão “nos próximos dois meses”.
A reportagem falou com dezenas de militares ucranianos engajados no combate direto e com analistas e autoridades da defesa dos EUA para mostrar como os norte-coreanos se comportam no campo de batalha. Além disso, assistiu também a vários vídeos de suas investidas fornecidos pela Ucrânia. Os primeiros pediram que fossem identificados apenas pelo primeiro nome, de acordo com o protocolo militar; já os segundos pediram anonimato para poder falar livremente sobre os detalhes.