Retrospectiva: Na mira, a nova fronteira do petróleo
Licença obtida pela Petrobras para fazer investigação exploratória na Margem Equatorial embala a projeção de “novo pré-sal”, mas acende o alerta de ambientalistas

A COP30, a conferência do clima da ONU, estava a 21 dias de abrir suas portas, em Belém (PA), quando veio uma notícia que impactou os movimentos ambientalistas.
No dia 20 de outubro, a Petrobras obteve do Ibama uma licença aguardada havia mais de um ano: a autorização para realizar perfuração exploratória em um poço na bacia da Foz do Amazonas, na região conhecida como Margem Equatorial. A decisão marcou uma inflexão no debate energético e sustentável do país e reacendeu críticas de ativistas, ao mesmo tempo em que foi celebrada por setores econômicos, lideranças políticas da região Norte e pelo governo federal.
A licença autoriza a investigação para verificar se há hidrocarbonetos em volume economicamente viável. É um passo técnico, mas sobre o qual se projeta um “novo pré-sal”, em referência ao potencial de produção e de ganhos econômicos.
Se a perfuração trouxer resultados positivos para a Petrobras, novo licenciamento, mais amplo e rigoroso, será exigido para permitir a produção. A companhia afiançou que a perfuração (com previsão de durar entre três e cinco meses) segue protocolos reforçados de segurança ambiental.
Se houver confirmação de petróleo, especialistas estimam que a produção só começaria entre seis e dez anos. No fim de novembro, a Petrobras apresentou seu Plano de Negócios 2026-2030, no qual a companhia informa que investirá US$ 7,1 bilhões para exploração no período. Desse total, US$ 2,5 bilhões estão reservados para a Margem Equatorial.
O investimento destinado à exploração compreende ainda US$ 2,2 bilhões para a Margem Sul e Sudeste (bacias mais maduras e produtivas, como a de Campos); e US$ 2,4 bilhões para bacias terrestres e novos ativos exploratórios no exterior.
A Petrobrás pretende perfurar 40 novos poços até 2030, sendo 15 na Margem Equatorial.
Essa extensa faixa geológica próxima à linha do Equador que, no litoral brasileiro, se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte, é composta por cinco bacias sedimentares: Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar.
O Ministério de Minas e Energia estima que, se confirmado o potencial, a região possa concentrar até 10 bilhões de barris de petróleo e gerar cerca de 350 mil empregos.
A operação ocorre no bloco FZA-M-59, a cerca de 500 quilômetros da foz do rio Amazonas e 175 km da costa amapaense. Desde agosto, a sonda de perfuração NS42 está na região. Ela perfura o poço
Morpho, o foco da licença.
O aval do Ibama encerrou uma sequência de negativas, motivadas por preocupações com o ecossistema marinho da região e com a capacidade de resposta a vazamentos.
Para liberar a pesquisa, o órgão exigiu melhorias como bases de apoio para atendimento à fauna que sofrer com vazamentos em áreas mais próximas da região de perfuração, reduzindo o tempo de resgate. A presidente da Petrobras, Magda Chambriard, afirmou que a empresa comprovou a robustez da estrutura de preservação ambiental e prometeu operar com “segurança, responsabilidade e qualidade técnica”.
No campo político, a licença foi celebrada em Brasília e no Amapá. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
evocou o precedente do pré-sal, cuja descoberta em 2006 ampliou o fôlego econômico do país. Já organizações como o Observatório do Clima argumentaram que a decisão contraria o discurso climático do país e amplia riscos à biodiversidade amazônica e às comunidades locais



