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Ucrânia desorienta míssil russo ‘invencível’ ao enganá-lo com música patriótica

Tática eletrônica usa interferência, spoofing e até uma canção transformada em código para enganar o Kinzhal

O Exército da Ucrânia afirma ter encontrado uma forma inusitada de neutralizar um dos armamentos mais temidos da Rússia. Segundo especialistas do grupo ucraniano Night Watch, os mísseis hipersônicos Kh-47M2 Kinzhal, antes classificados pelo Kremlin como “invencíveis”, estão sendo derrubados por meio de interferência eletrônica que inclui até o envio de uma música patriótica codificada digitalmente.

A estratégia desmonta um dos símbolos mais propagandeados da capacidade bélica russa.

Com a chegada do inverno, aumentaram os ataques russos a infraestruturas de energia e abastecimento, usando grandes levas de drones e mísseis, entre eles o Kinzhal, capaz de atingir velocidades acima de Mach 5. Ataques sucessivos em outubro envolveram centenas de artefatos.

Embora sistemas Patriot fornecidos pelos Estados Unidos tenham conseguido interceptar parte dessas armas, a limitação de unidades e munições impede a defesa ucraniana de abater a maior parte dos projéteis.

Os Kinzhals dependem de orientação via GLONASS, o sistema de navegação por satélite da Rússia. É nessa dependência que o grupo Night Watch atua. Usando um sistema de interferência chamado Lima EW, os ucranianos bloqueiam totalmente a comunicação do míssil com satélites e também enviam sinais falsificados.

Diferentemente de bloqueadores tradicionais que apenas saturam receptores com ruído, o Lima “hackeia” a munição, inserindo dados que a fazem perder completamente a referência de posição.

Ao analisar destroços dos mísseis abatidos, os técnicos identificaram que o Kinzhal utiliza antenas e receptores considerados ultrapassados, semelhantes aos de armamentos soviéticos. A suposta blindagem eletrônica do modelo, antes exaltada por Moscou, teria pouca eficiência contra spoofing de última geração. “Não há nada especial nesses mísseis”, disse o grupo ao site 404 Media, revelando que 19 Kinzhals foram derrubados em apenas duas semanas.

A operação começa com o envio de um código digital que contém uma música nacionalista ucraniana. Após “tocar” o arquivo convertido em binário, o Lima envia coordenadas falsas que fazem o míssil acreditar que está a milhares de quilômetros, em Lima, no Peru.

Desorientado, o Kinzhal tenta corrigir sua rota imediatamente. A manobra é fatal para um artefato que pode ultrapassar 4.000 milhas por hora. Segundo os técnicos, o esforço repentino causa estresse estrutural que o míssil não consegue suportar. O resultado é uma ruptura do fuselagem em pleno voo, transformando o que era visto como um trunfo russo em um alvo vulnerável.

A Rússia, segundo o Night Watch, tenta reagir aumentando o número de receptores instalados no míssil: de oito, passou a 12 e, mais recentemente, a 16. A medida, porém, é considerada inútil pelos operadores ucranianos, já que o campo de interferência cobre todos os sensores simultaneamente.

“Eles acham que trocando de receptor escaparão da interferência, mas isso é fisicamente impossível”, afirmou o grupo, apostando que versões futuras trarão ainda mais receptores.

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