COP é vitrine, mas investimento recorde do Fundo Amazônia não está ligado apenas ao evento
Especialistas citam impactos da comparação entre taxas de desmatamento ano a ano e os recursos alocados pelo fundo

Nos discursos que abriram as portas da 30ª edição da Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) para o mundo, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez questão de ressaltar a importância de o evento ser realizado pela primeira vez na Amazônia.
“No imaginário global, não há símbolo maior da causa ambiental do que a floresta amazônica. Aqui correm os milhares de rios e igarapés que formam a maior bacia hidrográfica do planeta. Aqui habitam as milhares de espécies de plantas e animais que compõem o bioma mais diverso da Terra”, disse Lula, na abertura da Cúpula dos Líderes, evento que antecedeu a COP30.
No papel, as cifras alocadas em projetos do Fundo Amazônia em 2025 atingiram um recorde. Foram R$ 2,048 bilhões alocados pelo fundo apenas este ano, segundo dados contabilizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) até a última segunda-feira, 17.
Ao todo, o valor do apoio dado ao fundo está em R$ 4,823 bilhões, saindo de três para 10 contribuintes. Mas, apesar da importância simbólica da COP30 em Belém, no Pará, o investimento recorde na preservação do bioma amazônico pouco tem a ver com a conferência em si.
“A realização da COP na Amazônia funcionou, sem dúvida, como uma vitrine global. Ela deu mais visibilidade à região, ampliou o engajamento de doadores e reforçou a urgência de investimentos estruturantes. No entanto, não é possível atribuir o aumento dos aportes exclusivamente à COP”, considera Mariana Oliveira, diretora de Florestas e Uso da Terra da organização de pesquisa independente WRI Brasil.
A percepção é compartilhada por Lise Vieira da Costa Tupiassu Merlin, pró-reitora de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ela resume a COP30 como uma “catalisadora” dessas doações.
Exemplo disso está nos investimentos anunciados já durante a conferência, como o da Suíça, que se comprometeu a doar R$ 33 milhões ao Fundo Amazônia, no último dia 9. Mas as especialistas avaliam que o que deu impulso para a retomada das doações foi a mudança de postura política do Brasil com relação ao meio ambiente.
“Há um fortalecimento da liderança climática do Brasil e maior clareza sobre as prioridades da política florestal, o que reforça a confiança internacional no uso eficaz dos recursos. A reativação plena da governança do Fundo e a consolidação de seus instrumentos de transparência também foram decisivas para destravar investimentos que já estavam em negociação”, afirma Mariana, relembrando que o Fundo Amazônia foi completamente desativado durante a gestão Bolsonaro e só voltou por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

O histórico das COPs e a floresta amazônica
Para Cristiane Mazzetti, coordenadora da frente de Desmatamento Zero do Greenpeace Brasil, as conferências do clima nunca tiveram um foco muito específico na Amazônia. “As COPs se centram muito na questão de energia, da transição dos combustíveis fósseis. Mas tem espaço para falar de mitigação, que se dá através das florestas”, afirma.
Apesar disso, o Fundo Amazônia é fruto de uma concepção criada na COP12, que ocorreu em Nairóbi, no Quênia, em 2006. O presidente do Brasil também era Lula, então no seu segundo mandato. O fundo saiu do papel cerca de dois anos depois, por meio de um decreto.
Segundo o presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), João Paulo Cappobianco, a ideia do então governo federal de levar a redução do desmatamento na Amazônia para a discussão global aconteceu após verem resultados internos de medidas de combate à prática que vinham sendo aplicadas desde 2004 no País.
“Não era um pedido de recursos para fazer, era um pedido de recursos para que nós continuássemos a fazer. Essa ideia é uma ideia muito revolucionária, porque ela é baseada em resultado mensurável, concreto, obtido, demonstrado, e, por isso, é necessário que a gente faça isso”, disse ele, durante a COP30.
O monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrou que, de fato, a taxa de desmatamento caiu de 27.772 km², em 2004, para 14.280 km², em 2006, ano em que foi proposto o fundo. Agora, em 2025, quando o Fundo Amazônia bateu recorde em doações, a taxa de desmatamento está em seu menor patamar em 10 anos, com 5.796 km² de área desmatada.
Após a criação do fundo, em 2008, houve um movimento consolidado de queda do desmatamento até 2012, quando atingiu a mínima histórica captada pelo INPE, com cerca de 4,5 mil km² desmatados. Depois, a taxa voltou a subir e, de 2019 a 2022, se manteve acima dos 10 mil km² desmatados. O recorte coincide com o período em que o Fundo Amazônia ficou desativado.



