Chile decide entre Jara e Kast em eleição marcada pela segurança pública
Disputa de 14 de dezembro coloca frente a frente a candidata comunista e o líder da extrema direita após um primeiro turno dominado pelo tema da criminalidade e da imigração

O Chile confirmou neste domingo (16) que Jeannette Jara (Partido Comunista), apoiada pelo presidente Gabriel Boric, e José Antonio Kast (Partido Republicano), representante da extrema direita, disputarão o segundo turno presidencial em 14 de dezembro.
A definição veio ainda na fase preliminar da apuração, quando o Serviço Eleitoral (Servel) apontou a liderança de Jara com 26,67% e Kast com 24,19% após 71,16% das urnas contabilizadas até as 20h45 -resultado que refletiu tanto as pesquisas quanto a centralidade do debate sobre segurança pública.
A eleição ocorreu em meio ao aumento da criminalidade e à sensação de insegurança que, segundo especialistas, tem impulsionado propostas conservadoras, sobretudo ligadas ao combate ao crime organizado e à imigração irregular. Embora Jara tenha liderado o primeiro turno, levantamentos indicam que ela chega ao segundo turno em desvantagem, uma vez que diversas correntes da direita superam juntas 50% do eleitorado.

Apoios imediatos e polarização crescente
Ainda durante a noite eleitoral, o presidente Gabriel Boric usou as redes sociais para reconhecer o resultado e desejar serenidade ao país. “Confio que o diálogo, o respeito e o amor pelo Chile prevalecerão sobre quaisquer diferenças”, afirmou.
A direita rapidamente se reorganizou. Derrotados no primeiro turno, Johannes Kaiser e Evelyn Matthei confirmaram apoio imediato a Kast. “Reconhecemos a vitória de José Antonio. Cumprimos nossa palavra”, disse Kaiser, exaltando o desempenho de sua legenda. Matthei também parabenizou Kast e declarou que “o que mais deve nos preocupar é que o Chile possa seguir em frente”.
O terceiro lugar surpreendeu analistas: Franco Parisi, do Partido Popular, superou Kaiser e Matthei, alcançando cerca de 18,6% dos votos. Conhecido por um discurso radical contra a imigração irregular, Parisi emerge como figura decisiva para o campo conservador no futuro Congresso.
Segurança domina o debate eleitoral
A campanha foi marcada pela predominância do tema da segurança. Kast defendeu deportações imediatas, fortalecimento das forças policiais e um “escudo de fronteira” contra a imigração irregular. “É necessária união para enfrentar os problemas que nos afligem hoje, que são problemas na área da segurança. A maioria das pessoas dirá que está com medo”, afirmou após votar em Paine.
Mesmo entre eleitores jovens, a criminalidade tem peso central no voto. “A questão da criminalidade precisa ser abordada. Tudo está horrível. (…) É necessária uma mudança”, disse à AFP Joaquín Castillo, estudante de 23 anos, após votar em Santiago.
Os dados oficiais reforçam a preocupação: os homicídios subiram de 2,5 para 6 por 100 mil habitantes em uma década, um aumento de 140%. O Ministério Público registrou 868 sequestros em 2023 – 76% a mais que em 2021.
Jara tenta ampliar apoio e responde ao clima de tensão
Jeannette Jara, de perfil moderado dentro do Partido Comunista, reforçou durante a campanha que enfrentará a criminalidade sem abandonar políticas sociais. Ela promete medidas de impacto, como o fim do sigilo bancário para atacar as finanças do crime organizado.
Em mensagem publicada nas redes sociais, Jara adotou tom conciliador e agradeceu o apoio recebido: “Muito obrigado, Chile. Hoje, avançamos para o segundo turno em primeiro lugar. Conseguimos isso caminhando, ouvindo e conversando com milhares de pessoas em todas as regiões. Fizemos isso com esperança, com esforço e com a profunda convicção de que o Chile merece uma vida melhor. […] O que está por vir é uma nova oportunidade para o Chile. Uma oportunidade para priorizar o que realmente importa: as pessoas, a eficácia dos nossos esforços e a construção de uma vida em paz.”



