Crítica

Frankenstein: Jacob Elordi tem atuação monstruosa no morno filme de Del Toro

Longa repete espetáculo visual do diretor, mas não tem muita novidade para contar

“Aquele era o meu messias! Meu Jesus Cristo.” Foi dessa forma que Guillermo Del Toro descreveu sua relação com Frankenstein, adaptação de Boris Karloff lançada há quase 100 anos, em 1931. E não poderia ser diferente. A paixão por monstros, pelo gótico e pelo terror permeiam toda a filmografia do diretor mexicano. Seu primeiro filme, Cronos, já era uma grande referência ao trabalho de Mary Shelley, autora do livro original de Frankenstein. Demorou, mas finalmente Del Toro conseguiu – com o financiamento da Netflix, que segue em busca de seu tão sonhado Oscar de Melhor Filme – colocar para frente seu projeto dos sonhos.

O diretor reúne um elenco estrelado e pop para sua adaptação, trazendo Oscar Isaac como Victor Frankenstein, o cientista que desafia a morte ao criar um ser a partir de restos de corpos sem vida da guerra. Mia Goth, estrela da Trilogia X, da A24, faz Elizabeth, a paixão de Victor e de sua Criatura, interpretado por Jacob Elordi. O time ainda conta com Christoph Waltz como Harlander, David Bradley, Ralph Ineson, Charles Dance e Felix Kammerer, este último de Nada de Novo no Front.

Frankenstein é mais um deslumbre visual nas mãos de Del Toro e sua equipe de produção, mas a verdade é que ninguém teria coragem de não acreditar nisso desde o anúncio do filme. O cineasta mexicano já provou ao longo dos últimos 30 anos que é um mestre nessa forma artesanal de construir histórias, cenários e criaturas. De O Labirinto do Fauno, Hellboy e seus companheiros até o Oscar com A Forma da Água e Pinóquio, Del Toro se tornou um mestre em colocar na tela efeitos práticos e maquiagens realistas. Quando precisou mergulhar no CGI, com Círculo de Fogo, o diretor mostrou que também entendia de física e proporções, dando peso aos robôs e kaijus da história. Então, o que parece estranho, quando vários atores de Frankenstein precisam reforçar tanto esse lado artesão do diretor na divulgação do filme, na verdade funciona como uma distração para o que não dá certo na história.

A trama do monstro de Frankenstein já foi contada inúmeras vezes no cinema, seja em adaptações fiéis ao livro de Shelley ou em blockbusters como Van Helsing. Pouco sobra para alguma novidade na tragédia desse Prometeus moderno que, ao tentar eternizar a vida, cria ainda mais destruição e mortes. Del Toro aposta suas fichas em alguns elementos, como o elenco estrelado, mas nem todos funcionam bem. Mia Goth e Christoph Waltz, por exemplo, seguem repetindo seus trabalhos prévios. O ator não consegue fugir dos cacoetes que o fizeram ganhar dois Oscar nas mãos de Quentin Tarantino. Já Goth parece o tempo todo esperar um momento para gritar novamente “sou uma estrela!”, como fez em Pearl, nos filmes da trilogia X de Ti West.

A responsabilidade recai completamente sobre os protagonistas da história. Oscar Isaac faz uma mistura de Steven Tyler com cientista louco, em uma atuação afetada, mas que funciona, principalmente após a chegada da Criatura. E é aí que entra o maior trunfo de Frankenstein. Jacob Elordi, em uma maquiagem que lembra completamente os Engenheiros de (vejam só!) Prometheus, está fantástico como o monstro que busca um sentido em sua criação.

Del Toro é muito inteligente em dar mais atenção aos sentimentos da Criatura e aproveitar o talento do ator para focar ainda mais nas nuances do personagem, com Elordi transitando perfeitamente entre o melancólico e o solitário, mas que impõe força e medo quando precisa. É interessante perceber que os grandes méritos do filme se destacam cada um em sua parte. Se a história de Victor enche os olhos com a parte técnica, o ponto de vista da Criatura é onde a trama realmente ganha seu momento mais interessante, focada no perdão e na sensibilidade. E é curioso que, ao chegar nesse ponto, o filme derrapa no uso de CGI, com criações estranhíssimas de animais como cervos, ovelhas e lobos.

Frankenstein está longe de ser um filme ruim. A trilha sonora de Alexander Desplat é linda e nada tira o mérito de vermos uma história criada há mais de 200 anos ainda ser contada com tanta paixão, carinho e atenção. Como no dito popular, talvez Guillermo Del Toro erre ao amar demais a obra. O diretor fica preso à missão de tentar provar a escala de seu conto. Fez isso com A Colina Escarlate e O Beco do Pesadelo, ambos com os mesmos predicados de Frankenstein. Falta a sensibilidade do diretor que recontou Pinóquio da melhor maneira possível, que fez o romance à la A Bela e a Fera com A Forma da Água, e contou os horrores da guerra pela visão de uma menina em O Labirinto do Fauno. Frankenstein é belíssimo, mas morno e comum. Algo que nem a obra de Mary Shelley e nem os grandes filmes do diretor nunca foram.

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