Entenda o conflito no Nepal que derrubou premiê após bloqueio de redes sociais
KP Sharma Oli renunciou nesta terça (9) em meio a protestos q

O primeiro-ministro do Nepal, KP Sharma Oli, renunciou ao cargo nesta terça-feira (9), pressionado por protestos populares que se intensificaram após o governo impor um bloqueio a redes sociais, como Facebook e Instagram.
Os protestos, que levaram a confrontos violentos que deixaram pelo menos 19 mortos e centenas de feridos, mergulharam o país, que fica entre a Índia e a China, em uma nova onda de instabilidade política.

Início dos protestos
Os protestos começaram na semana passada, quando o governo bloqueou 26 plataformas de redes sociais, alegando que elas não estavam registradas no país e não colaboravam com a Justiça para combater crimes online, como discurso de ódio e fraudes.
A medida gerou revolta, especialmente entre jovens e adultos entre 15 e 43 anos, que representam 43% da população nepalesa, de acordo com a agência de notícias Reuters.
Vídeos mostrando a vida luxuosa de filhos de políticos em contraste com as dificuldades da população ganharam força em publicações compartilhadas no TikTok, uma das poucas plataformas não bloqueadas.
Na segunda-feira (8), manifestantes tentaram invadir o Parlamento em Katmandu, capital do país. A polícia usou gás lacrimogêneo, balas de borracha e, segundo denúncias da Anistia Internacional, munição letal para dispersar a multidão.
O confronto resultou em 19 mortes e cerca de 400 feridos, entre civis e policiais, segundo dados oficiais. A repressão foi classificada como a pior onda de violência em protestos no Nepal em décadas.
Prédios públicos incendiados
Na terça-feira, os protestos continuaram. Em declaração à agência France-Presse (AFP), Ekram Giri, porta-voz da Secretaria do Parlamento, disse que centenas de manifestantes invadiram o complexo do Parlamento e incendiaram o prédio principal.
Segundo a Reuters, o prédio da Suprema Corte também foi alvo de incêndios. Imagens divulgadas por agências de notícias internacionais mostravam fumaça preta subindo de diversos pontos da cidade.
A residência particular de Oli foi invadida e saqueada, com manifestantes quebrando janelas, móveis e ateando fogo à estrutura, segundo a Reuters. A mídia local informou que alguns ministros foram resgatados por helicópteros militares.

A casa do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khana também foi incendiada. A esposa dele, Ravi Laxmi Chitrakar, sofreu queimaduras graves e morreu, de acordo com a mídia local.
Além disso, um prédio que abriga a Kantipur Publications, maior grupo de mídia do Nepal e editor do jornal The Kathmandu Post, foi incendiado. Os servidores da publicação foram danificadas, e o site, retirado do ar.
“Estamos publicando todas as nossas reportagens e atualizações em nossas plataformas de mídia social. Obrigado por apoiar nosso trabalho”, escreveu o The Kathmandu Post em uma publicação no X.
O aeroporto internacional de Katmandu, principal porta de entrada do país, foi fechado devido à fumaça dos incêndios, que colocava em risco a segurança das aeronaves, segundo a Autoridade de Aviação Civil do Nepal.
Voos foram cancelados ou redirecionados para a Índia, e operações em aeroportos regionais, como o de Bhairahawa, foram suspensas após invasões e incêndios, de acordo com o jornal indiano Hindustan Times.