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Entenda o que está por trás da acusação dos EUA de narcotráfico contra Maduro

Governo dos EUA sustenta a existência do chamado Cartel de los Soles; Caracas nega envolvimento com ilícitos transnacionais

Os Estados Unidos anunciaram em agosto o envio de sete navios de guerra para o sul do Caribe após prometerem uma recompensa de 50 milhões de dólares pela captura de Nicolás Maduro. O presidente da Venezuela é acusado pelo sistema judicial norte-americano de envolvimento com o tráfico de drogas desde 2020.

O secretário de Estado, Marco Rubio, definiu Nicolás Maduro como “narcoterrorista” e “fugitivo da justiça norte-americana” nesta quinta-feira (4), durante visita oficial ao Equador. Rubio destacou a disposição do governo de Donald Trump em intensificar o combate ao tráfico de drogas na região.

A secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, também afirmou que Maduro é um dos narcotraficantes mais poderosos do mundo e uma ameaça à segurança americana. Caracas reagiu imediatamente e negou as acusações. A deputada chavista Blanca Eekhout disse que a versão americana é insustentável. Para ela, não há cultivo, produção ou tráfico de drogas dentro da Venezuela.

O governo dos EUA sustenta a existência do chamado Cartel de los Soles, suposta organização de narcotráfico ligada a altos oficiais militares e ao próprio presidente.

No entanto, especialistas afirmam que não há provas públicas de que Maduro controle um cartel. Segundo o pesquisador Phil Gunson, do International Crisis Group, o termo é apenas uma expressão usada para descrever redes de militares envolvidos em atividades ilícitas.

As próprias estatísticas internacionais levantam dúvidas sobre a narrativa americana. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime informa que a produção de cocaína está concentrada na Colômbia, Peru e Bolívia. A Venezuela não aparece nos relatórios como produtora.

Em 2023, a Colômbia respondeu por mais de 2.500 toneladas do total global de 3.700, enquanto a Venezuela foi responsável por menos de 2% das apreensões na América Latina. A Agência Antidrogas dos EUA também aponta a Colômbia como origem de 84% da cocaína apreendida em território americano.

Mesmo assim, Washington alega que o governo venezuelano facilita o trânsito de até 250 toneladas de cocaína por ano. O dado foi divulgado em 2020 pelo então secretário de Justiça Bill Barr. O volume é pequeno diante da escala mundial, mas não deixaria de ser significativo por gerar lucros milionários.

O histórico de processos reforça as suspeitas da Casa Branca. Em 2016, dois sobrinhos da primeira-dama venezuelana, Cilia Flores, foram condenados em Nova York por conspirar para traficar cocaína.

Em junho deste ano, Hugo Carvajal, ex-chefe de inteligência militar, declarou-se culpado de conspiração para importar cocaína aos Estados Unidos e de atividades ligadas ao narcoterrorismo. O julgamento revelou ligações entre militares venezuelanos e guerrilheiros das FARC.

A oposição venezuelana se divide diante do tema. Maria Corina Machado comemorou as acusações contra Maduro, enquanto Henrique Capriles pediu que os EUA apresentem provas concretas da existência do Cartel de los Soles.

Maduro, por sua vez, nunca reconheceu envolvimento e segue sustentando que o narcotráfico é combatido em seu país. Segundo o governo, mais de 490 aeronaves e 94 embarcações foram apreendidas em operações de segurança em 2023.

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