Saúde

Muito além do sono: veja os múltiplos efeitos da melatonina na saúde

Artigo científico aponta potenciais aplicações da suplementação em áreas como neuroproteção, imunidade e metabolismo

Um estudo que publiquei em coautoria com a Profa. Dra. Luciana Pellegrini Pisani, ambas pesquisadoras da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), na revista internacional Sleep and Breathing, analisou 71 trabalhos realizados entre 2011 e 2024 para investigar os impactos da suplementação de melatonina em diferentes aspectos da saúde física e mental.

Embora a melatonina seja amplamente conhecida por seu papel na regulação do sono, nossos resultados mostram que seus efeitos vão muito além disso, abrangendo neuroproteção, imunidade, metabolismo e saúde emocional. Trata-se de um hormônio multifuncional, com propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e imunomoduladoras.

Produzida principalmente pela glândula pineal durante a noite, a melatonina também é sintetizada em tecidos periféricos, como o trato gastrointestinal e células do sistema imune.

Sua ação ocorre por meio da ligação aos receptores MT1 e MT2 no sistema nervoso central, influenciando neurotransmissores como serotonina e dopamina e modulando processos fisiológicos essenciais para o equilíbrio do organismo.

A análise revelou que a suplementação pode melhorar significativamente a qualidade do sono, especialmente em indivíduos com distúrbios do ritmo circadiano, como trabalhadores noturnos, idosos e pessoas com insônia crônica.

Também encontramos evidências promissoras de efeito neuroprotetor em doenças como Alzheimer e Parkinson, além de redução da ansiedade em contextos cirúrgicos.

Em atletas, a melatonina mostrou potencial para acelerar a recuperação física e reduzir o estresse oxidativo após treinos intensos. Por outro lado, os dados sobre obesidade, controle glicêmico, microbioma intestinal, saúde respiratória, câncer, saúde psiquiátrica, pediatria e gravidez ainda são inconclusivos.

Muitas dessas pesquisas apresentam limitações metodológicas, como amostras pequenas, curto tempo de acompanhamento e ausência de grupos controle, o que dificulta a generalização dos resultados.

Por isso, apesar do entusiasmo em torno da melatonina, ressalto que seu uso deve ser cuidadosamente avaliado, considerando o perfil individual de cada paciente e os possíveis efeitos adversos, como sonolência excessiva, pesadelos e alterações de humor.

A mensagem central do nosso artigo é clara: a melatonina possui um potencial terapêutico relevante, mas não deve ser encarada como solução universal. A prescrição deve ser personalizada, baseada em evidências científicas e acompanhada por profissionais capacitados.

Defendemos ainda a realização de novos estudos clínicos, com metodologias mais robustas e acompanhamento longitudinal, para compreender melhor seus mecanismos e ampliar a segurança e eficácia de seu uso em diferentes contextos da saúde humana.

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