Petrobras: Margem Equatorial pode manter patamar de dividendos por mais duas décadas
Estatal distribuiu juros e dividendos em torno de R$ 500 bi aos acionistas nos últimos dez anos. Se expectativas forem confirmadas, potencial petrolífero da região pode ser suficiente para manter esse nível

As ações da Petrobras (PETR3; PETR4) registram queda de quase 13% neste ano, com dividendos abaixo do esperado no segundo trimestre e anúncios de que voltará a atuar na distribuição de GLP. Mas, no longo prazo, com a autorização para realizar as últimas etapas preparatórias às perfurações em alto mar na Foz do Amazonas – que pode revelar campos de petróleo tão ricos quanto os do pré-sal –, aguarda um prêmio e tanto para os detentores de papéis da estatal.
As expectativas são altas para as primeiras perfurações em alto mar na região vizinha da Guiana, onde a Exxon descobriu quase 11 bilhões de barris de petróleo em alto mar em 2015, uma das maiores descobertas das últimas décadas. O PIB per capita do país era de 5,64 mil dólares naquele ano. Hoje, mal iniciada a produção petrolífera, o valor é de 32,9 mil dólares.
Quando os primeiros leilões de blocos exploratórios na região foram realizados, em 2013, a então e atual presidente da Petrobras, Magda Chambriard, falou em potencial de 30 bilhões de barris em toda a Margem Equatorial (Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar). Ao longo deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repetiu em várias ocasiões o potencial de arrecadar R$ 1 trilhão com a nova bacia.
Apesar das previsões elevadas, não há base para cravar em números quanto petróleo será encontrado lá, afirma Rafael Schiozer, professor da Fundação Getúlio Vargas e especialista em óleo e gás.
“Os testes geológicos indicam que há um bom potencial na região. Fozes de rio são locais propícios para o acúmulo de depósitos de hidrocarbonetos, como ocorre no Golfo do México, na Bacia de Campos ou na de Santos. Mas dizer quanto vai ter ali seria um grande chute”, diz.
Apesar da cautela, Schiozer não recusa a comparação com o pré-sal. “Se confirmado o potencial, estaríamos diante de algo parecido. Mas é especulação. Pode ser, pode não ser”. Conforme o professor, levará ao menos alguns anos para identificar, de fato, quanto petróleo há na região.
“Um a dois anos para ter ideia melhor do que há no subsolo, com poços exploratórios. A produção efetiva levaria pelo menos mais três ou quatro anos. Sendo otimista, falamos de 2031 para o primeiro barril”, prevê.
É o mesmo ano, o de 2031, que a Petrobras estimou ser o pico da produção de petróleo do pré-sal. Ou seja, se confirmado o potencial, a exploração da Margem Equatorial chegaria em tempo de evitar uma queda na produção e poderia prolongar em duas décadas o ritmo excepcional de pagamento de dividendos.
Para João Abdouni, analista da Levante Inside Corp., as ações da Petrobras oscilam de olho no curto prazo, e quase nada pelo longo prazo – diferente de outras companhias listadas, como a Ultrapar, que também vende combustíveis e gás, e têm preço sobre lucro de oito vezes, quase o dobro do da estatal.
“A Petrobras negocia a quatro vezes lucro. A tese é que ela precisa devolver dividendos rápido, porque o mercado teme má gestão pelo controlador. Por isso, projetos de longo prazo não entram na conta”, explica.
Ele estima que a empresa pagou em torno de R$ 500 bilhões em juros e dividendos para acionistas nos últimos 10 anos.
Para o analista, há um prêmio de retorno pelo risco do controlador. Ou seja, quando a má gestão do controlador (o governo) não se confirma, o retorno na forma de dividendos é superior à média do mercado. “Se a empresa mantiver dividendos entre 10% e 15% ao ano [como tem ocorrido], devolve o capital do acionista em cerca de 7 a 10 anos”.
Portanto, se as previsões de descoberta de um “novo pré-sal” se confirmarem, um acionista poderia ver o dinheiro investido voltar três vezes antes das reservas se exaurirem.
Tudo isso a depender dos resultados das prospecções. Caso as expectativas sejam frustradas, ou pela constatação de que as reservas são menores, ou pela impossibilidade de realizar as perfurações, as alternativas são poucas. Para o professor Rafael Schiozer, a Petrobras precisaria buscar novas fronteiras exploratórias fora do Brasil, como já tem feito na África, onde adquiriu blocos em São Tomé e Príncipe e na África do Sul.
“Uma empresa de petróleo vive de descobrir reservas e produzi-las. Se as reservas que a Petrobras tem vão ser depletadas em um prazo de 10 a 15 anos, é natural que ela tenha que buscar outras reservas em outros lugares”, conclui.