O que é Aliança para a Memória do Holocausto, grupo do qual o Brasil se retirou?
Formada em 1998 para fortalecer educação sobre o Holocausto, organização da qual o Brasil se retirou está no centro de polêmica

O Brasil deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) devido a questões políticas e críticas à sua definição de antissemitismo, gerando reações internacionais e debate sobre liberdade de expressão e o combate ao antissemitismo
O Brasil deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), da qual participava como membro observador desde 2021. A informação foi divulgada na quinta-feira passada, 24, pelo Ministério do Exterior de Israel após o Brasil ter anunciado, um dia antes, que estava prestes a aderir formalmente ao processo que a África do Sul move contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ) por acusação de genocídio.
O próprio governo Lula não se manifestou oficialmente sobre a retirada, mas diplomatas brasileiros disseram que ela ocorreu porque a adesão teria sido feita de maneira “inadequada” durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O que é a IHRA?
A IHRA foi lançada em 1998 pelo ex-primeiro-ministro sueco Göran Persson. Ela se descreve como uma uma organização intergovernamental que “une governos e especialistas para fortalecer, avançar e promover o ensino, a memória e a pesquisa sobre o Holocausto em todo o mundo”.
À época, Persson argumentou que a iniciativa era necessária porque pesquisas mostravam que muitos jovens europeus ignoravam ou mal tinham ideia sobre a escala do Holocausto, o genocídio de 6 milhões de judeus pelo regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
No final de uma reunião de maio de 1998, delegações de vários países europeus e dos EUA concordaram colaborar para “fortalecer a cooperação internacional em atividades educacionais sobre o Holocausto, atividades públicas, testemunhos de sobreviventes e encontrar formas adequadas de alcançar os jovens”.
No mesmo ano, Alemanha, Israel e Polônia se juntaram à organização, que hoje conta com 35 países membros e oito observadores.

Reações à saída do Brasil
Após a saída, o Ministério do Exterior de Israel afirmou que a decisão do Brasil é uma demonstração de “profunda falha moral”. “Numa época em que Israel luta por sua própria existência, voltar-se contra o Estado judeu e abandonar o consenso global contra o antissemitismo é imprudente e vergonhoso”, declarou o ministério.
A saída do Brasil foi considerada um “equívoco” pelo comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e o Combate ao Antissemitismo, o brasileiro Fernando Lottenberg, para quem o Brasil deveria continuar na IHRA apesar das divergências políticas atuais com Israel.
Presidência ocupada por israelense que foi pivô de atritos com Brasil
A presidência da IHRA é rotativa entre os países-membros, que são responsáveis por nomear um responsável para coordenar a aliança por períodos de um ano.
No momento, a presidência é ocupada por Israel, que designou para o posto o jurista Dani Dayan, que é também presidente do Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém.
Dayan já foi pivô de atritos entre Israel e Brasil no passado. Em 2015, ele foi vetado pela então presidente Dilma Rousseff para ser o embaixador de Israel no Brasil. À época, o governo brasileiro ficou insatisfeito após os israelenses terem feito o anúncio da indicação em redes sociais antes de o Itamaraty ser informado.
Além disso, alguns setores do governo se opunham à indicação de Dayan porque ela já havia liderado um conselho de colonos israelenses em territórios palestinos ocupados.