Caroço de açaí vira alta tecnologia: UEAP recebe R$ 8 milhões para transformar resíduos da Amazônia em materiais do futuro
Projeto de Biorrefinaria Amazônica vai criar materiais sustentáveis e biodegradáveis a partir de resíduos florestais, como caroços de açaí, com potencial de revolucionar a indústria na região

Núbia Pacheco / TV Equinócio
A Universidade do Estado do Amapá (UEAP) foi destaque nacional ao vencer um edital do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e garantir um investimento de quase R$ 8 milhões. O recurso será usado no desenvolvimento de um projeto inovador que pretende transformar resíduos florestais da Amazônia, como caroços de açaí, cascas, folhas e restos de madeira, em materiais biodegradáveis com alto valor tecnológico.
Chamado de “Biorrefinaria Amazônica”, o projeto é coordenado pelo professor Matheus Cordazzo Dias, do curso de Engenharia Florestal da UEAP, e quer mostrar que o que hoje é descartado pode se transformar em embalagens sustentáveis, tecidos resistentes, filtros de água e até telas de celular.

De descarte a inovação tecnológica
O projeto parte de um problema comum na região: o descarte incorreto de resíduos florestais. Um exemplo é o do caroço de açaí, que muitas vezes é queimado ou jogado fora, poluindo o meio ambiente. Com a tecnologia que está sendo desenvolvida, esses resíduos podem virar nanomateriais, estruturas extremamente pequenas, invisíveis a olho nu, mas com enorme potencial de aplicação em diversas indústrias.
Uma das ideias é substituir plásticos derivados do petróleo por filmes biodegradáveis, feitos com nanofibrilas de celulose, um material resistente e compostável. Também há planos para produzir bioplásticos, tecidos antibacterianos, componentes eletrônicos, entre outras aplicações.

Mas o que são nanomateriais?
São materiais muito pequenos, até 80 mil vezes mais finos que um fio de cabelo, e, justamente por isso, têm propriedades especiais, como alta resistência, leveza e flexibilidade.
Na prática, o projeto da UEAP vai trabalhar com três tipos principais de nanomateriais:
• Nanofibrilas de celulose: usadas para fazer embalagens biodegradáveis, papéis resistentes e revestimentos ecológicos.
• Nanopartículas de lignina: extraídas da madeira, podem ser usadas em protetores solares, filtros, remédios e adesivos.
• Nanocarvão ativado: com alto poder de purificação, pode ser usado em filtros de água e processos industriais.
Objetivos e impacto para a Amazônia
A equipe da UEAP está focada em três metas principais: melhorar o aproveitamento das fibras da região, produzir nanomateriais com alta qualidade e testar o uso desses materiais em produtos sustentáveis e comercialmente viáveis.
Segundo o professor Matheus Cordazzo, o projeto pode mudar a forma como o Amapá e a Amazônia lidam com seus recursos naturais. “A ideia é transformar o que antes era lixo em insumos tecnológicos. É uma forma de gerar renda, proteger o meio ambiente e ainda posicionar o estado como referência em inovação verde”, afirma.

Com a criação da Biorrefinaria Amazônica de Nanomateriais, a expectativa é de que o Amapá passe a ocupar um lugar de destaque na produção de tecnologia limpa, com base na biodiversidade amazônica e no uso inteligente dos seus resíduos florestais.