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História do xadrez: das origens à nova geração de campeões

Jogo estratégico ganhou popularidade principalmente por meio da competição pelo título de campeão mundial, oficializado em 1886

Neste domingo (20), fãs da modalidade comemoram o Dia Internacional do Xadrez, esporte que atravessa gerações e segue, mesmo num mundo repleto de estímulos digitais, atraindo novos jogadores.

Origem e versões antigas

A origem do xadrez é controversa e não há evidências confiáveis de que o jogo moderno existisse antes do século VI d.C. Peças antigas encontradas em várias regiões do mundo são, na verdade, de jogos anteriores e relacionados de forma distante.

Um desses jogos antigos foi o “chaturanga”, surgido no noroeste da Índia por volta do século VII, considerado o precursor direto do xadrez moderno por ter peças com poderes diferentes e vitória centrada na captura do rei.

“chaturanga” evoluiu possivelmente para o “shatranj”, que se tornou popular após 600 d.C. em regiões como Índia, Paquistão e Ásia Central.

“shatranj” introduziu uma nova peça, o “firzān”, e as condições de vitória incluíam capturar o rei adversário. O jogo se espalhou para o leste, norte e oeste, adaptando-se a diferentes culturas.

Na Ásia, por exemplo, o xadrez chegou à China por volta de 750 d.C. e ao Japão e Coreia no século XI. A versão chinesa, conhecida como xadrez chinês, possui um tabuleiro maior e regras que tornam o jogo mais lento, destacando-se pela presença de um “rio” que divide o campo de jogo.

Chegada à Europa

Uma versão do “chaturanga” ou “shatranj” chegou à Europa através da Pérsia, do Império Bizantino e principalmente do Império Árabe. O jogo mais antigo registrado, do século X, foi disputado entre um historiador de Bagdá e um aluno.

Os muçulmanos levaram o xadrez ao Norte da África, Sicília e Espanha por volta do século X, enquanto os eslavos o difundiram para a Rússia, e os vikings o levaram até a Islândia e Inglaterra, responsáveis pela famosa coleção de peças de marfim da Ilha de Lewis, datadas dos séculos XI ou XII.

Apesar de proibições ocasionais por reis e líderes religiosos, como o Rei Luís IX da França em 1254, o xadrez cresceu devido ao seu prestígio social, sendo associado a riqueza, conhecimento e poder, e tornando-se um jogo favorito de vários monarcas europeus, conhecido como “o jogo real” já no século XV.

Regras

As regras e o formato do xadrez evoluíram gradualmente, com variações regionais ao longo dos séculos. Por volta de 1300, o peão ganhou a opção de avançar duas casas no primeiro movimento, mas essa regra só foi amplamente aceita na Europa depois de 300 anos.

O maior avanço ocorreu a partir de 1475, quando o conselheiro foi transformado na rainha moderna, com grande mobilidade e poder, e o elefante virou bispo, ampliando seu alcance. Essas mudanças tornaram o xeque-mate mais comum e o jogo mais dinâmico, substituindo as partidas longas e lentas da era medieval.

As regras do roque e da captura “en passant” surgiram no século XV, mas só se popularizaram no século XVIII. Pequenas variações persistiram até o século XIX, como restrições na promoção de peões quando a rainha original ainda estava em jogo.

Visual das peças

Desde os tempos do “chaturanga”, a aparência das peças de xadrez variou entre simples e ornamentada. Inicialmente, peças simples evoluíram para conjuntos figurativos representando animais e guerreiros, mas entre os séculos IX e XII, conjuntos muçulmanos adotaram designs simbólicos e não figurativos devido à proibição islâmica de imagens de seres vivos.

Essa simplicidade facilitou a popularidade do jogo ao focar mais na estratégia do que na aparência das peças.

Com a expansão do xadrez para Europa e Rússia, os conjuntos voltaram a ser mais estilizados, muitas vezes decorados com pedras preciosas, e os tabuleiros passaram a ter quadrados alternados coloridos, feitos de materiais nobres.

O rei se tornou a maior peça, a rainha aumentou em tamanho após 1475 junto com seus poderes, e o bispo recebeu uma mitra distintiva somente no século XIX. A torre e outras peças tiveram representações variadas regionalmente.

O design moderno das peças, conhecido como padrão Staunton, foi criado em 1835 por um inglês, Nathaniel Cook, e popularizado por Howard Staunton, sendo o único modelo permitido em competições oficiais internacionais.

Pioneiras do Xadrez

A separação dos sexos no xadrez começou por volta de 1500, com a introdução da rainha e a percepção do jogo como uma atividade masculina, reforçada por restrições sociais no século XIX.

Apesar disso, mulheres começaram a se destacar, com clubes femininos surgindo na Holanda em 1847 e o primeiro torneio feminino em 1884. Jogadoras como Vera Menchik, primeira campeã mundial feminina (1927-1939), e as soviéticas dominaram o cenário até os anos 1990, quando a chinesa Xie Jun e as prodígias húngaras Polgár transformaram o panorama ao competirem também em torneios.

As irmãs Polgár, especialmente Judit, alcançaram alto nível mundial, desafiando a separação tradicional. Desde então, o xadrez feminino tem ciclos regulares de campeonatos organizados pela FIDE (Federação Internacional de Xadrez), com campeãs como Hou Yifan e Ju Wenjun, refletindo maior integração e competitividade entre gêneros.

Teorias

No século XVIII, François-André Philidor foi o pioneiro na explicação sistemática do xadrez, destacando a importância dos peões. Suas ideias influenciaram Paul Morphy, que brilhou brevemente no cenário mundial sem deixar obras escritas.

  • Wilhelm Steinitz, sucessor de Morphy, revolucionou o jogo com a “escola moderna”, defendendo o equilíbrio posicional e o xeque-mate como objetivo final, visão aprimorada por Emanuel Lasker, que acrescentou aspectos psicológicos e defesas criativas.
  • Siegbert Tarrasch, outro seguidor, priorizou o controle de espaço e a mobilidade das peças, mesmo às custas de estruturas frágeis, popularizando as ideias de Steinitz com regras práticas.
  • José Raúl Capablanca, que sucedeu Lasker, aperfeiçoou um estilo técnico e eficiente, focado em transformar pequenas vantagens em vitórias, evitando riscos e priorizando a simplicidade. Esse período consolidou um jogo mais posicional, com menos sacrifícios e gambitos, levando a um aumento dos empates rápidos no início do século XX.

Popularidade

Nos últimos dois séculos, o xadrez ganhou popularidade principalmente por meio da competição pelo título de campeão mundial, oficializado em 1886.

Grandes eventos começaram no século XIX, com partidas notórias entre jogadores europeus, e desenvolveram para torneios internacionais organizados por figuras como Howard Staunton, que promoveu o design de peças Staunton.

Emanuel Lasker foi campeão mundial por um longo período (1894-1921) e, durante seu reinado, especialmente perto e durante a Primeira Guerra Mundial, houve dificuldades e falta de organização para realizar partidas de campeonato.

Essas circunstâncias, somadas ao crescimento do xadrez internacional, contribuíram para o surgimento da FIDE em 1924, que passou a formalizar as regras e a organização dos campeonatos mundiais de xadrez.

Depois da morte do russo Alexander Alexandrovich Alekhine em 1946, a FIDE assumiu o controle dos campeonatos, organizando ciclos regulares e estabelecendo regras para os desafiantes.

A entidade também promoveu campeonatos femininos, mencionados anteriormente no texto, e criou títulos como “Grande Mestre Internacional”.

A fama do xadrez cresceu globalmente, especialmente a partir da vitória de Bobby Fischer em 1972, que trouxe maior visibilidade e prêmios ao esporte.

Conflitos entre jogadores e a FIDE também surgiram, como a cisão entre Garry Kímovich Kasparov e a federação na década de 1990, criando campeonatos paralelos. A unificação só ocorreu em 2006, com Vladimir Borisovich Kramnik, da Rússia, vencendo o búlgaro Veselin Topalov.

Atualidade

O ex-campeão mundial norueguês Magnus Carlsen dominou o título entre 2013 e 2022, quando decidiu não defender seu reinado. Carlsen foi eliminado da Champions Chess Tour Chessable Masters 2023, seu último torneio como campeão mundial de xadrez. Ele foi derrotado na final da repescagem para o americano Hikaru Nakamura.

Em 2023, Ding Liren tornou-se campeão, mas perdeu em 2024 para o indiano Gukesh Dommaraju, o mais jovem campeão mundial da história, aos 18 anos.

Gukesh tinha quatro anos a menos que Garry Kasparov, que era o mais jovem a vencer o Mundial desde 1985, quando superou Anatoly Karpov aos 22 anos.

Carlsen, o “popstar controverso” do xadrez

Já em 2025, Carlsen protagonizou uma cena inusitada ao bater com força na mesa, depois de sofrer sua primeira derrota para o campeão mundial, Gukesh, em uma partida de xadrez clássico. O confronto ocorreu em Stavanger, durante o torneio Norway Chess 2025.

O norueguês teve a vantagem em boa parte da partida, mas com o tempo escasso no relógio, cometeu um erro grave que deu ao indiano Gukesh uma vantagem decisiva. Na sequência do lance fatal, Magnus Carlsen golpeou a mesa, apertou rapidamente a mão do adversário, pediu desculpas pelo gesto e saiu da sala visivelmente irritado.

Carlsen afirmou que continuará se esforçando para dar o seu melhor. Gukesh, por sua vez, admitiu ter ficado surpreso com a reação do adversário. “Não era bem assim que eu queria vencer, mas tudo bem, vou aceitar”, disse à Chess.com. Também já bati em muitas mesas na minha carreira

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