Há 80 anos, 1ª bomba atômica do mundo era detonada pelos EUA
Teste Trinity, realizado em 16 de julho de 1945, marcou início da era atômica e mudou curso da humanidade

Em 16 de julho de 1945, o mundo mudou para sempre. Às 5h29 daquela manhã, em um deserto no Novo México, nos Estados Unidos, a primeira bomba atômica da história, chamada de “Gadget”, foi detonada. A experiência ficou conhecida como Teste Trinity.
O evento, parte do Projeto Manhattan, liberou uma energia equivalente a 21 mil toneladas de TNT, criando uma bola de fogo de 600 metros de diâmetro e uma nuvem em forma de cogumelo que alcançou 12 quilômetros de altura.
A explosão deixou uma cratera de 1,4 metro de profundidade e 80 metros de largura, transformando a areia do deserto em um vidro verde levemente radioativo, conhecido como trinitita.
O clarão da explosão foi tão intenso que pôde ser visto a 450 quilômetros de distância. Testemunhas relataram sensações avassaladoras. “De repente, houve um enorme lampejo de luz, a luz mais brilhante que eu já vi. Ela explodia; dava botes; cavava um buraco dentro da gente”, descreveu o físico Isidor Isaac Rabi, ganhador do Nobel.
A explosão marcou o início da era atômica, quando a humanidade adquiriu a capacidade de destruir sua própria biosfera.
O Teste Trinity foi o ponto culminante do Projeto Manhattan, um esforço científico e militar dos Estados Unidos que envolveu 130 mil pessoas e custou cerca de US$ 2 bilhões (quase R$ 200 bilhões em valores atuais) entre 1942 e 1946.
A iniciativa teve início depois que os físicos Albert Einstein e Leo Szilard enviaram, em 1939, uma carta ao presidente Franklin Roosevelt sobre o risco de a Alemanha nazista desenvolver armas atômicas.
Apesar de Einstein ser um pacifista, a ameaça nazista motivou a criação de um “time dos sonhos” da ciência mundial. A equipe foi liderada pelo físico Julius Robert Oppenheimer, no laboratório de Los Alamos, no Novo México.
O objetivo era criar uma bomba capaz de desencadear uma reação em cadeia por fissão nuclear, onde os átomos de plutônio ou urânio se dividem, liberando enormes quantidades de energia.
A bomba testada em Trinity usava plutônio e um método de implosão: explosivos convencionais “comprimiam” o núcleo radioativo, iniciando a reação em cadeia. A complexidade do projeto era tão grande que, até o momento da detonação, havia incertezas sobre se a explosão realmente ocorreria.

O local e os preparativos
O deserto Jornada del Muerto, a 56 quilômetros de Socorro, no Novo México, foi escolhido para o teste devido à sua localização isolada. A área, repleta de cactos, escorpiões e cascavéis, exigiu a construção de infraestrutura praticamente do zero.
A bomba foi montada no topo de uma torre de 30 metros, e os cientistas tomaram precauções, como usar folhas de níquel e ouro para proteger o núcleo de plutônio da corrosão. Colchões foram colocados sob a torre como medida de segurança contra acidentes.
Os preparativos foram marcados por tensão. O meteorologista Jack Hubbard previa tempestades, e a equipe enfrentou desafios técnicos, como ajustar peças que não se encaixavam devido a diferenças de temperatura entre o plutônio e o urânio. Até fita adesiva foi usada para fixar explosivos.
Enquanto isso, o novo presidente dos EUA, Harry Truman, aguardava os resultados em Potsdam, na Alemanha, onde negociava com os Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
O impacto da explosão
Quando a bomba detonou, o impacto foi imediato e avassalador. O clarão transformou a madrugada em dia, cegando temporariamente observadores a 9.000 metros de distância. O calor vaporizou a torre de aço, e a onda de choque derrubou cientistas que observavam a 32 quilômetros.
A explosão foi tão potente que um piloto da Marinha, a 10 mil pés de altitude, relatou que o clarão iluminou a cabine de seu avião como “o sol nascendo no sul”. Um guarda florestal a 240 quilômetros descreveu um “clarão de fogo” seguido de fumaça preta.
Oppenheimer, ao presenciar o evento, lembrou-se de uma frase do texto hindu Bhagavad Gita: “Agora me tornei a Morte, a destruidora de mundos”, segundo o Museu Nacional da Segunda Guerra Mundial, nos EUA.
O físico Enrico Fermi chegou a especular, antes do teste, sobre a possibilidade de a explosão incendiar a atmosfera, embora cálculos indicassem que isso era improvável. Coelhos do deserto, a mais de 700 metros, foram as primeiras vítimas da nova tecnologia.