O futuro da indústria química está nas mãos do Congresso
Mais do que um programa setorial, o Presiq é uma política pública estratégica que pode garantir soberania produtiva e resiliência econômica ao país

A indústria química brasileira está no centro de uma encruzilhada estratégica. Ao mesmo tempo em que o mundo valoriza cadeias produtivas locais, baixo carbono e inovação, o Brasil assiste à erosão da sua base produtiva, à explosão das importações e ao aprofundamento de sua dependência externa.
Esse cenário não pode mais ser tratado como conjuntural. Ele exige respostas sistêmicas, com visão de longo prazo. A resposta é o Presiq – Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química PL 892/2025. Ele representa uma das mais importantes oportunidades de reconstrução da competitividade industrial do país. O que está em jogo não é apenas a recuperação de um setor, mas a retomada do protagonismo produtivo do Brasil.
Uma resposta estratégica à desindustrialização silenciosa
A indústria química brasileira vive uma crise que não é episódica. Em 2024, o déficit da balança comercial do setor chegou a 48,7 bilhões de dólares e a capacidade ociosa ultrapassou os 36%. No início de 2025, a produção caiu 5,6% e a demanda interna recuou 4%, mesmo com um mercado interno robusto.
Essa deterioração tem origem em fatores estruturais: energia cara, falta de estímulos à produção local, entraves logísticos e concorrência internacional com subsídios trilionários. Nos Estados Unidos, o setor se beneficia de gás barato e incentivos que somam 1,9 trilhão de dólares. No Reino Unido e na União Europeia, os pacotes de estímulo passam de 1,7 trilhão. No Brasil, por outro lado, a indústria química precisa competir com energia até cinco vezes mais cara e quase nenhum mecanismo de proteção.
O Presiq é a resposta coordenada que o Brasil precisa para frear a perda de empregos, arrecadação e capacidade de inovação.
O exemplo do REIQ e o limite de respostas fragmentadas
O impacto positivo de políticas de estímulo ao setor já foi comprovado. Em 2023, com a suspensão do REIQ (Regime Especial da Indústria Química), a arrecadação federal caiu R$6 bilhões. Em 2024, com sua retomada, o acréscimo estimado foi de R$5,8 bilhões.
O REIQ foi fundamental para evitar um colapso maior em um setor estratégico, oferecendo um fôlego tributário num momento de crise. O Presiq se propõe a dar sequência a essa agenda, incorporando novos elementos como metas de redução de emissões de carbono , estímulo à inovação e ampliação da capacidade instalada. Trata-se de um passo adiante: uma política pública ancorada em compromissos de longo prazo orientada pela sustentabilidade, pela produtividade e pela geração de valor.
Sem o Presiq, o país corre o risco de ver os ganhos recentes se perderem. A retomada dos investimentos e da arrecadação exige uma política pública moderna, estruturante e ancorada em metas ambientais e industriais, como propõe o projeto em debate no Congresso.
Reindustrialização verde: um novo modelo para o Brasil
O Presiq se estrutura a partir dos pilares da reindustrialização verde. Estimula investimentos em eficiência energética, inovação em insumos renováveis, economia circular e descarbonização da indústria. Hoje, a química brasileira é a mais sustentável do mundo.
Para cada tonelada de químicos produzida, ela emite de 5% a 51% menos CO2 em comparação a concorrentes internacionais, além de possuir uma matriz energética composta por 82,9% de fontes renováveis – no mundo, essa média é de 28,6%. Esta marca só foi possível graças a uma série de pesquisas, inovações e melhorias que foram introduzidas pela química ao longo dos anos.
Neste ano, o Brasil será sede da COP30 e ocupará o centro do debate internacional sobre transição energética, descarbonização da economia e sustentabilidade industrial. Neste contexto, o Presiq oferece uma oportunidade real de traduzir compromissos ambientais em ação concreta. Sua aprovação permitirá ao Brasil demonstrar, com clareza, que é possível alinhar desenvolvimento econômico, política industrial e responsabilidade climática.
Trata-se de uma escolha política com forte simbolismo e efeito prático. O Congresso Nacional tem a chance de conduzir uma agenda que projeta o país como referência global em soluções industriais sustentáveis. A química já é parte da solução climática – falta reconhecê-la como tal na política industrial. O Presiq é mais do que uma resposta à crise do setor químico, é uma oportunidade de construir, em conjunto, um legado para o Brasil que queremos ver representado no cenário internacional.
Potencial de impacto regional e fortalecimento da soberania produtiva
O Presiq tem capacidade de transformar realidades regionais. Em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Pernambuco, onde há forte presença do setor químico, já existem mão de obra qualificada, infraestrutura instalada e acesso a insumos estratégicos como o gás natural. O programa pode potencializar esses ativos, ampliando a competitividade nacional e posicionando o Brasil como referência global em produtos com maior valor agregado e menor pegada de carbono.
Mas o efeito vai além desses polos. O fortalecimento da indústria química impacta diretamente setores como saúde, agricultura, mobilidade, construção civil e saneamento. São cadeias inteiras que dependem da química para inovar, crescer e atender às demandas da população brasileira.
O Congresso diante de uma decisão histórica
A aprovação do Presiq não é um gesto isolado de apoio a um segmento. É uma escolha estratégica. Em um mundo em que cadeias globais estão sendo redesenhadas e metas climáticas são cada vez mais rigorosas, os países que preservarem sua soberania produtiva e investirem em inovação industrial sairão na frente.
O Brasil tem as condições técnicas, humanas e naturais para ser um desses países. O que falta é alinhar as decisões políticas ao que o futuro exige. O Presiq é uma chance concreta de promover esse alinhamento.O mundo está se movendo. O Brasil precisa se mover junto, com estratégia, com visão e com coragem. A hora de aprovar o Presiq é agora.