Após salto nas vendas de carne bovina para os EUA, setor teme ‘entrave’ com tarifaço
As tarifas impostas por Trump chegam em um momento em que a produção norte-americana de carne bovina se encontra em baixa

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas comerciais de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos (EUA). No agronegócio, as tarifas devem impactar uma série de produtos, entre eles a carne bovina, que tem os EUA como segundo principal destino das exportações.
Dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) apontam que no primeiro semestre de 2025, os embarques de carne bovina brasileira para os Estados Unidos aumentaram em 112,6% em relação ao mesmo período do ano passado, o que configurou um recorde histórico para o período.
De janeiro a junho de 2024, os Estados Unidos importaram 85.365 toneladas de carne bovina brasileira, já em 2025 neste mesmo período, esse número subiu para 181.477 toneladas.
Em termos de receita, os índices também estão sendo significativamente superiores. Enquanto no ano passado de janeiro a junho o setor obteve uma receita de US$ 514.996.000 este ano, no mesmo período os números chegaram a US$ 1.040.175.051.
A ABIEC criticou a imposição da tarifa por parte do presidente americano classificando a medida como “entrave ao comércio internacional”.
Confira a nota da ABIEC
“A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), entidade que representa as principais empresas exportadoras de carne bovina do Brasil, esclarece que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina. A ABIEC reforça a importância de que questões geopolíticas não se transformem em barreiras ao abastecimento global e à garantia da segurança alimentar, especialmente em um cenário que exige cooperação e estabilidade entre os países. A Associação segue atenta e à disposição para contribuir com o diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis.”
EUA é parceiro estratégico
Os EUA são o segundo maior comprador da carne brasileira, com uma participação muito inferior a China (principal destino) nas exportações nacionais. Em segundo lugar, em 2024, os Estados Unidos importaram aproximadamente 229 mil toneladas de carne bovina do Brasil, enquanto a China importou cerca de 1,33 milhão de toneladas.
De modo geral, ao comentar os setores impactados, Luís Garcia, sócio do Tax Group e do MLD Advogados Associados, Administrador de Empresas pela FGVe, advogado Tributarista pela USP/SP, aponta que diversificar pode ser a única alternativa para os exportadores.
“[Os exportadores brasileiros] Podem buscar alternativas em outros mercados, renegociar preços com o mercado americano ou mesmo voltar a produção para o mercado nacional, mas nenhuma dessas alternativas leva à compensação total das perdas com as medidas do Trump”, explica.
Redução do rebanho bovino nos EUA
As tarifas impostas por Trump chegam em um momento em que a produção norte-americana de carne bovina se encontra em baixa.
Os Estados Unidos seguem sendo os maiores produtores da proteína no planeta, apesar disso, um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgado no mês passado apontou que a produção americana de carne bovina deve diminuir graças a fatores climáticos e a maior redução no rebanho do país nos últimos anos.
Segundo previsão do Departamento, em 2025, o déficit comercial dos EUA para carne bovina, calculado como a diferença entre os volumes de exportação e importação, foi projetado em 1,8 bilhão de libras. Este seria o maior déficit desde 2006. “espera-se que a balança comercial mude, com o déficit encolhendo para quase zero até 2030”, disse o departamento de agricultura dos EUA em uma nota divulgada em março deste ano.