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Por que o Brasil vive uma ‘epidemia’ de diagnóstico de autismo?

Cada vez mais pacientes procuram neurologistas e psiquiatras buscando um diagnóstico para TEA

Embora seja um assunto complexo e que jamais deve ser visto de forma reducionista, precisamos ter coragem para apontar que no momento vivemos uma “epidemia” de diagnósticos de autismo no Brasil e várias universidades federais do nosso país têm estudado esse fenômeno.

Converso com vários colegas médicos ilustres, grandes referências no tema, e todos apontam para essa situação alarmante e lesiva ao indivíduo e à sociedade.

Se no passado muitos do chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA) não eram diagnosticados, o que impedia o diagnóstico e o tratamento precoces que melhoram o prognóstico, na atualidade tivemos uma melhora da acurácia diagnóstica, o que deveria ser excelente.

Mas, infelizmente, vivemos o extremo oposto (diagnósticos excessivos errôneos por avaliações sumárias), que também é lesivo porque acaba saturando o Sistema Único de Saúde (SUS) e até o sistema privado, que não dão conta da demanda atual impedindo que os verdadeiros autistas tenham acesso aos diversos tratamentos e terapias necessários.

E há impactos também na esfera econômica, uma vez que um grupo considerável de não autistas com diagnósticos errôneos terão direitos a benefícios garantidos por lei sem que façam jus aos mesmos.

Cada vez mais pacientes procuram neurologistas e psiquiatras buscando um diagnóstico para TEA. Geralmente, por terem visto nas redes sociais sobre o tema ou por algum profissional de qualidade técnica e ética questionável que fez os tais “testes” que comprovaram o diagnóstico.

Incrível ver influencers e artistas estarem também incentivando isso. Parece até um movimento paradoxal: antes os pacientes fugiam de ter um diagnóstico psiquiátrico, hoje muitos querem ter tal diagnóstico a qualquer custo, o que denominamos de “psicofilia”.

E por que correm tanto atrás do diagnóstico de TEA? Por uma série de benesses, como ganhos materiais diretos e benefícios legais e até mesmo como uma forma de não se responsabilizarem por certos comportamentos e atitudes.

O fato é que educadores e gestores escolares e juízes de Varas da Infância estão sobrecarregados com o excessivo número de laudos médicos que atestam o autismo exigindo que as escolas concedam privilégios aos mesmos e obrigando planos de saúde a cobrir diversos tipos de terapia para crianças e adolescentes não verdadeiramente autistas mesmo com o conceito atual de Espectro Autista.

O fenômeno de explosão de casos de autismo não é exclusividade brasileira. Nos EUA, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que usa o modelo categorial de diagnóstico, fala em uma criança com TEA a cada 33. Já na Europa, o fenômeno é muito diferente, atingindo uma criança a cada 1.080, portanto há uma grande disparidade.

Com isso, surgem os oportunistas de plantão que desejam lucros financeiros a todo custo, mesmo que “plantando” falsas esperanças nas famílias sofridas, uma verdadeira indústria de autismo.

Há muitas clínicas “especializadas” oferecendo tratamentos caros e sem comprovação científica. Há cursos de pós-graduação duvidosos, brinquedos inclusivos e suplementos sendo oferecidos sem nenhuma comprovação científica.

O fato nuclear é que precisa haver mais rigor e fiscalização sobre laudos médicos questionáveis de autismo a fim de que todos os benefícios sejam de direito exclusivo das crianças, adolescentes e adultos corretamente diagnosticados por profissionais qualificados e éticos.

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