Por que o ataque dos EUA ao Irã fortalece a obsessão nuclear da Coreia do Norte
Ao contrário de Teerã, a ditadura de Kim Jong-un mantém um arsenal nuclear estimado entre 40 e 50 ogivas operacionais

O bombardeio dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas aumentou a percepção da Coreia do Norte de que possuir armas nucleares é essencial para garantir a sobrevivência do regime, avaliam especialistas.
O ataque, realizado no último sábado (21), envolveu alvos estratégicos do programa nuclear iraniano e gerou reações imediatas em Pyongyang, que interpretou a ação como uma justificativa para manter e expandir seu próprio arsenal. As informações são do jornal Korea Herald e da Rádio Free Asia.
Autoridades e especialistas em Seul apontam que a ofensiva americana no Oriente Médio reduziu ainda mais a disposição da Coreia do Norte para dialogar com os Estados Unidos. A avaliação é que o bombardeio reforça a visão de que países sem dissuasão nuclear estão vulneráveis a intervenções externas. A comparação com o Irã, que não possui armas nucleares, foi direta.
Ao contrário de Teerã, a Coreia do Norte mantém um arsenal estimado entre 40 e 50 ogivas operacionais, além de diversos mísseis balísticos, incluindo modelos intercontinentais com capacidade de atingir o território americano. O país também conta com sistemas de artilharia apontados para a região metropolitana de Seul, capital da Coreia do Sul, o que limita as opções militares dos Estados Unidos e de aliados na região.
Especialistas apontam que os principais centros nucleares da Coreia do Norte estão localizados em áreas montanhosas, enterrados a centenas de metros de profundidade, o que os torna praticamente inalcançáveis por ataques aéreos convencionais. Por isso, analistas descartam a possibilidade de uma ação similar à realizada no Irã, considerando o risco elevado de retaliação imediata e em larga escala.
A decisão americana também foi usada por Pyongyang para reforçar a narrativa de que a dissuasão nuclear é a única forma de evitar o destino de regimes como o do Iraque ou do próprio Irã, que sofreram com ataques e intervenções dos EUA ao longo do século.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores norte-coreano criticou os ataques e afirmou que houve violação da soberania iraniana e das normas do direito internacional.
Além do posicionamento oficial, analistas apontam que Kim Jong-un deve acelerar o desenvolvimento de novas capacidades nucleares, como submarinos equipados com ogivas e reforço dos sistemas de defesa aérea Também são esperadas ações de dispersão e camuflagem de instalações nucleares para dificultar qualquer tentativa de ataque.
A Coreia do Norte também já formalizou uma política de uso preventivo de armas nucleares e agora tende a ampliar sua cooperação militar com Rússia e China, especialmente após o tratado assinado entre Kim Jong-un e Vladimir Putin em 2024, que prevê defesa mútua.