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A economia brasileira está crescendo acima ou por volta de 3% desde 2021, após o tombo de 3,3% em 2020 devido à pandemia. Se no primeiro momento crescer neste patamar ajudou a economia a sair da recessão, a manutenção desse patamar de crescimento pode trazer uma consequência grave.
“Se a economia não desacelerar, vai faltar mão de obra”, alerta a economista Margarida Gutierrez, professora titular da UFRJ.
O sinal de alerta foi baseado, segundo a professora, em dados extraídos do último Censo Demográfico e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambos do IBGE.
“O crescimento potencial da oferta de mão de obra gira em torno de 0,3% ao ano, isso equivale a 450 mil pessoas entrando no mercado de trabalho por ano”, aponta Gutierrez.
Por outro lado, foram criados 2,8 milhões de empregos somente em 2024, o que equivale a uma taxa de crescimento de 2,8% na demanda por trabalho na economia, de acordo com a avaliação de Gutierrez.
“Se o PIB desacelerar para 2% em 2025, por exemplo, a demanda por trabalho deve subir 1,6%”, diz a economista, projetando que a demanda por trabalho cresceria para 1,7 milhão.
Gutierrez apresentou esses dados para abordar o conceito de elasticidade renda do emprego, que indica como o nível de emprego responde a mudanças na renda das pessoas e no crescimento da economia.
“Agora, compare esse número de 1,7 milhões que as empresas vão demandar de trabalho com a oferta potencial de trabalho de 450 mil pessoas”, afirma a economista, que ainda vê espaço para mais um pouco de queda na taxa de desemprego.
“Como garantir uma taxa de crescimento do PIB de 3% ao ano com essa restrição que se tem hoje no mercado de trabalho?”, pergunta Gutierrez, que aponta a baixa produtividade da economia brasileira como responsável pela elasticidade renda do emprego ser elevada no país. “E aumentar a produtividade exige tempo”, diz ao abordar que a receita de superação desse obstáculo não é obtida por políticas econômicas de curto prazo.
Estimativa do PIB do Brasil em 2025
A projeção de Gutierrez é de que a economia brasileira desacelere em 2025, com um crescimento estimado entre 1,5% e 2%, devido a três fatores internos principais que não estão relacionados ao mercado de trabalho.
- Taxa Selic elevada, com expectativa de que chegue a 15% ao ano em 2025 e com uma taxa real – descontada a inflação – de por volta de 10%. Isso deve encarecer o crédito, o que deve desestimular os gastos das famílias e das decisões de investimentos das empresas.
- Aumento da inflação, com expectativa de que o IPCA fique acima do limite superior do regime de meta de inflação ao longo de 2025. Se o centro da meta é 3% e o limite é de que a inflação ao consumidor fique até 4,5%, as projeções dos economistas é de que o IPCA encerre 2025 em 5,58%. Na prática, é uma redução do poder de compra dos assalariados.
- Condições macroeconômicas financeiras deterioradas, que equivale ao preço dos ativos desvalorizados. Isso significa dólar mais alto, taxa de juros futura mais elevada e o Ibovespa em tendência de queda. “Aí aparece o risco fiscal”, diz a professora, classificando o mix de política econômica como “nefasta”, pois aumenta concomitantemente os gastos públicos e a arrecadação de impostos, tornando-se a responsável pela expectativa deteriorada do mercado sobre o preço dos ativos brasileiros.
O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA é um fator adicional para a desaceleração da economia brasileira em 2025. A política comercia de Trump criou condições adversas à economia mundial, especialmente aos países emergentes, elevando as incertezas, na avaliação da economista.
“Uma guerra comercial provavelmente está em curso”, afirma Gutierrez em relação à adoção de tarifas sobre produtos importados pelo governo dos EUA.