Parte dos aliados do governo na comissão quer evitar que o ex-presidente Jair Bolsonaro ganhe destaque ao prestar depoimento
Uma ala governista da CPMI do 8 de Janeiro tem resistido à ideia de convocar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para depor na comissão. Na avaliação de parte dos parlamentares que compõem a base do governo, um possível depoimento colocaria Bolsonaro sob os holofotes e poderia ajudar o ex-chefe do Executivo a emplacar a versão de que ele não teria relação com os atos extremistas.
A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), tem evitado cravar a possibilidade de um convite ou convocação de Bolsonaro. Em outras ocasiões, ela disse que o tema só seria posto em pauta caso houvesse materialidade para a ação.
Até o momento, só há um requerimento que sugere a oitiva do ex-presidente. Trata-se de um pedido de convite, o que significa que, caso o requerimento seja aprovado, Bolsonaro não tem obrigação de comparecer.
No entanto, na visão de parte da base governista, a melhor estratégia é fechar o cerco contra o ex-presidente, associando-o com o caso da venda ilegal de joias no exterior. Se ficar comprovado que as joias supostamente vendidas pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid ajudaram a financiar os atos golpistas, esse fato já seria suficiente para um possível indiciamento de Bolsonaro.
Um outro braço de atuação dos governistas mira a associação de Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti Neto. Em depoimento à comissão, o hacker afirmou que teve um encontro com o ex-presidente no Palácio da Alvorada em que foi levantada a hipótese de ele implantar um “código malicioso” em uma urna eletrônica fora das dependências do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para induzir os eleitores a duvidar da integridade do sistema.
De acordo com o hacker, durante o encontro o então presidente da República também teria sugerido que ele auxiliasse técnicos do Ministério da Defesa a apontar ao TSE fragilidades das urnas eletrônicas.