Brasil

Criação de moeda única na América Latina é complexa e esbarra em dificuldades, afirmam especialistas

Processo de implementação da medida seria lento e poderia trazer mais riscos do que benefícios para o Brasil

O ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim voltou a defender a criação de uma moeda única para os países da América Latina. A proposta ganha ainda mais força com a possibilidade de o ex-prefeito Fernando Haddad – entusiasta da ideia – assumir o Ministério da Fazenda na gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A implementação da medida, porém, esbarraria em um processo lento e complexo, segundo especialistas ouvidos pelo R7. Outro obstáculo seriam as disparidades entre as economias dos países que fazem parte do território.

Para o especialista em finanças Marcos Sarmento, a adoção de uma moeda única não seria uma proposta viável para os próximos quatro anos, já que depende da definição de diversos parâmetros “objetivos e rigorosos” dos países da região que queiram aderir à ideia.

“Apostaria que não vai acontecer. É um processo muito demorado e complexo. Talvez possa haver algum tipo de facilitação de troca entre esses países, mas uma mudança assim demoraria anos. Pode acontecer no futuro, mas não enxergo isso em um horizonte próximo”, afirmou.

Especialista em direito econômico e finanças, o advogado Fabiano Jantalia explica que a medida traria muito mais riscos do que benefícios para o Brasil. “Há o risco de [o país] se tornar o grande amparo econômico das demais nações do Mercosul. Hoje, já respondemos por grande parte do volume de negócios em comércio exterior firmados pelos países do bloco. É preciso considerar também que estamos em um estágio de gestão fiscal muito mais avançado e temos uma pauta de exportações que nos coloca como pouco dependente dos demais países”, explicou.

Na avaliação de Jantalia, do ponto de vista jurídico, a proposta é viável, porém “muito complexa”. “Não basta simplesmente criar uma moeda. É preciso que haja uma política fiscal, creditícia e monetária uniforme entre os países para que pudéssemos chegar a um estágio mínimo de eficácia”, ressalta.

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