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Xi e Putin querem nova ordem mundial e invasão da Ucrânia pode estragar planos

Análise comenta evolução do cenário mundial desde a última vez que líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, se encontraram e declararam amizade “sem limites”

A última vez que o líder chinês, Xi Jinping, e o presidente russo, Vladimir Putin, se sentaram frente a frente, eles declararam triunfantes a chegada de uma “nova era” nas relações internacionais.

Em meio a um boicote diplomático ocidental aos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e uma crise iminente na Ucrânia, os dois autocratas mais poderosos do mundo compartilharam suas visões de uma nova ordem mundial: acomodaria melhor os interesses de suas nações e não seria mais dominada pelo Ocidente.

Em uma declaração conjunta de 5.000 palavras, os dois líderes declararam uma amizade “sem limites” e expressaram suas queixas compartilhadas em relação aos Estados Unidos e seus aliados.

“O mundo está passando por mudanças importantes”, disseram na declaração conjunta, observando a “transformação da arquitetura de governança global e da ordem mundial”.

Mais de 200 dias depois, Xi e Putin se encontraram novamente em uma cúpula regional na cidade de Samarcanda, no sudeste do Uzbequistão. Muita coisa mudou, mas não necessariamente da maneira que a China ou a Rússia poderiam ter previsto.

Três semanas depois de se encontrar com Xi Jinping, em Pequim –e apenas alguns dias após o término das Olimpíadas de Inverno–, Putin lançou uma invasão em grande escala à Ucrânia. Ele esperava uma vitória rápida, mas, sete meses depois, a Rússia está longe de vencer. Suas forças estão exaustas, desmoralizadas e fugindo dos territórios que ocupam há meses.

Oficiais ucranianos observam tanque russo destruído no vilarejo de Rusaniv, na região de Kiev, em 16 de abril – Foto: Getty Images

E isso está deixando a China nervosa. Tendo se aproximado cada vez mais de Moscou sob Xi, Pequim tem uma participação direta no resultado da guerra. Uma Rússia derrotada fortalecerá o Ocidente e se tornará um ativo menos útil e confiável na grande rivalidade da China com os Estados Unidos. Uma Moscou enfraquecida também pode ser uma distração menor para os EUA, permitindo, assim, que Washington se concentre mais diretamente em Pequim.

Xi tem uma linha tênue a trilhar. Se ele se inclinar demais para ajudar a Rússia, corre o risco de expor a China a sanções ocidentais e golpes diplomáticos que prejudicariam seus próprios interesses. A reação também ocorreria em um momento delicado para Xi, que está a apenas algumas semanas de buscar um terceiro mandato no 20º Congresso do Partido.

Até agora, as duas potências autoritárias não chegaram nem perto de moldar a ordem mundial a seu favor – se alguma coisa, especialistas dizem que a guerra da Rússia contra a Ucrânia serviu para fortalecer a determinação ocidental.

Exercício militar chinês no Estreito de Taiwan, fornecida pelo Comando do Teatro Leste
do Exército de Libertação Popular em 4 de agosto de 2022 – Foto: Reuters

Alto risco

Para Putin, invadir a Ucrânia foi provavelmente o primeiro passo para remover a Rússia da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial –e pós-Guerra Fria.

Uma tomada rápida da Ucrânia teria sido um golpe doloroso para a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), expandido a esfera de influência de Moscou e mudado significativamente o equilíbrio de poder na Europa, em favor da Rússia.

Uma vitória russa também pode ter estabelecido um precedente perigoso em relação à China, que prometeu “unificar-se” com a democracia autônoma de Taiwan –à força, se necessário.

Sob Xi, Pequim já está intensificando a atividade militar próxima à ilha. Uma vitória fácil para Putin teria aprofundado ainda mais a crença de Xi de que o Ocidente está em declínio e fornecido um modelo para um ataque a Taiwan –um evento de enorme consequências que poderia redefinir o equilíbrio global de poder.

Mas a Ucrânia reagiu e, em vez de sabotar a ordem liderada pelos EUA, a invasão revigorou a Otan, fortaleceu os laços transatlânticos e uniu o Ocidente.

Enquanto isso, o encontro de Putin com Xi não poderia ter ocorrido em pior momento. As forças russas estão recuando em massa no nordeste da Ucrânia, perdendo mais território em uma semana do que capturaram em cinco meses.

Embora ainda seja muito cedo para prever o resultado, mesmo a perspectiva de a Rússia perder a guerra é suficiente para deixar Pequim ansiosa.

O revés da Rússia na Ucrânia já está começando a provocar uma considerável reação política dentro de Moscou, e uma derrota completa poderia criar instabilidade política no Kremlin –e sérias dores de cabeça para a China.

Embora os laços crescentes entre a China e a Rússia sejam incentivados principalmente por suas tensões com o Ocidente, eles também são parcialmente impulsionados pelo relacionamento pessoal próximo entre Xi e Putin. Durante sua década no poder, Xi se encontrou com Putin 38 vezes –mais que o dobro de vezes que encontrou com qualquer outro líder mundial.

Informações: CNN Brasil

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