‘Frota sombra’: entenda o que são os novos alvos russos de ataques da Ucrânia
Comboio é formado por petroleiros envelhecidos, registrados sob bandeiras de conveniência e sem o seguro obrigatório

Drones submarinos ucranianos atingiram dois navios-tanque ligados à chamada frota sombra da Rússia no Mar Negro, segundo um funcionário do Serviço de Segurança da Ucrânia. As explosões ocorreram na sexta (28) e no sábado (29), e Kiev reivindicou os ataques contra embarcações que, segundo autoridades ocidentais, sustentam parte das exportações de petróleo do Kremlin apesar das sanções impostas desde o início da guerra.
A ofensiva reacende o debate sobre o papel da frota sombra, uma rede paralela de petroleiros que opera fora das normas internacionais de segurança e transparência. Desde 2022, Moscou usa esses navios para driblar embargos, limites de preço e proibições de seguros marítimos.
Estados Unidos e Reino Unido ampliaram sanções contra cerca de duzentas embarcações e contra a Gazprom Neft, subsidiária petrolífera da estatal Gazprom. A Escola de Economia de Kiev estima que quase 70% do petróleo russo é enviado por navios irregulares.
A frota é formada por petroleiros envelhecidos, registrados sob bandeiras de conveniência e sem o seguro obrigatório P&I, usado para cobrir vazamentos, colisões e danos ambientais. Países sob sanções, como Irã e Venezuela, também usam esquemas semelhantes. No caso russo, a escala é inédita. O Atlantic Council calcula que 17% dos petroleiros ligados à Rússia já atuam nessa rede clandestina.
Um caso recente expôs o alcance da operação. Em março de 2025, autoridades da Alemanha confiscaram o petroleiro Eventin, de bandeira panamenha, ancorado no Báltico desde janeiro. O navio carregava cem mil toneladas de petróleo bruto, avaliadas em mais de quarenta milhões de euros, e havia sido incluído em uma lista europeia de embarcações suspeitas de burlar sanções.
O governo alemão afirmou que o confisco tinha caráter político e buscava enviar um sinal de que a Europa não aceitará rotas alternativas para exportações ilegais de energia.
A presença desses navios preocupa governos nórdicos por outro motivo. A Finlândia investiga se o petroleiro Eagle S esteve envolvido no rompimento de cabos submarinos no mar Báltico, entre eles um cabo de eletricidade que liga o país à Estônia. O navio havia deixado um porto russo pouco antes dos danos. Caso a suspeita seja confirmada, seria a primeira evidência de que embarcações da frota sombra podem estar sendo usadas para sabotagem de infraestrutura crítica.
“A Rússia está sistematicamente conduzindo uma guerra híbrida contra seus vizinhos da Otan e da União Europeia. É hora de abandonar as ilusões e encarar a realidade”, disse o ministro do Interior da Estônia, Lauri Läänemets.
A vulnerabilidade do Báltico mobilizou países da região. O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que a Aliança vai reforçar a presença naval no mar. Finlândia e Estônia, agora membros, têm trechos de fundo raso e alta concentração de cabos de energia, internet e oleodutos. O tráfego intenso favorece ações de sabotagem, já que navios comerciais circulam com liberdade em águas internacionais.
Apesar das restrições impostas pelos países ocidentais, o uso da frota sombra ampliou as receitas do Kremlin. A Escola de Economia de Kiev calcula que a Rússia ganhou nove bilhões e quatrocentos milhões de dólares a mais em 2024 graças à evasão ao teto de preço de US$ 60 por barril. As exportações renderam em média US$ 16,4 bilhões por mês, 5% acima do ano anterior. O recurso sustenta o esforço de guerra e reforça o orçamento russo.
Os ataques ucranianos desta semana miram diretamente essa estrutura paralela e devem ampliar a pressão sobre Moscou. A eficácia da estratégia, no entanto, dependerá de como a frota sombra continuará operando diante do aumento das sanções e do risco militar crescente no Mar Negro e no mar Báltico.



