Política Nacional

Crise de cúpulas do Congresso com líderes do PT desafia Planalto

Receio de governistas é que o clima comprometa a votação de pautas importantes para o governo, como o Orçamento

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encara um dos maiores desafios institucionais do ano: os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tiveram desentendimentos com os líderes do PT nas duas Casas. O receio de governistas é que o clima comprometa a votação de pautas importantes para o Executivo, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA) no Congresso.

Enquanto na Câmara Lindbergh Farias (RJ), de perfil firme e combativo, não recua nas críticas às decisões de Motta, no Senado Jaques Wagner (BA), mais conciliador, se vê em impasse com Alcolumbre por uma escolha de Lula.

Agora, cabe aos líderes do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), e na Câmara, José Guimarães (PT-CE), trabalhar pelo apaziguamento das relações.

Alcolumbre se chateia

Na Casa Alta, o clima era de lua de mel até bem recentemente. O presidente do Senado evitava críticas públicas a Lula e mantinha intactas duas indicações ao governo: Lucas Felipe de Oliveira, à frente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), e Waldez Góes, no Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

O Senado deu seu aval ao projeto de lei que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5 mil por mês e tributa as altas rendas em ritmo relativamente rápido, se comparado à tramitação na Câmara. A medida, promessa de campanha de Lula, tinha prioridade de aprovação ainda neste ano, para entrar em vigor em 2026 e se tornar um trunfo do PT na corrida pela reeleição.

Entre a entrega pelo governo, em 18 de março, e a aprovação na Câmara, passaram-se 197 dias. Já do momento em que a Câmara aprovou o texto, em 1º de outubro, até o aval do Senado, em 5 de novembro, se passaram 35 dias.

A desilusão de Alcolumbre veio da indicação de Lula para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) com a aposentadoria do ex-ministro Luís Roberto Barroso. O presidente escolheu seu aliado, o advogado-geral da União Jorge Messias, em vez do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), próximo do chefe do Senado.

Cabe ao Senado analisar a indicação de Messias ao Supremo. Primeiro, o advogado-geral passará por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Se aprovado pelo colegiado, seu nome seguirá para votação no plenário da Casa.

Lula até segurou o anúncio para azeitar a relação. Chamou Pacheco para um jantar e disse que estaria disposto a apoiá-lo nas eleições ao governo de Minas Gerais, mas o senador respondeu que pretende deixar a política em 2026.

Em 20 de novembro, quando Lula formalizou a escolha, Alcolumbre disse a aliados que o chefe do Executivo não o havia procurado para comunicar a decisão. Divulgou uma nota à imprensa e anunciou a votação do projeto de lei que cria aposentadoria especial para agentes comunitários de saúde e de combate às endemias.

A proposta não tem estimativa de impacto orçamentário, mas deve gerar efeito significativo nas contas públicas.

O presidente do Senado não se manifesta publicamente, mas aliados afirmam que ele sequer atende às ligações do líder do PT na Casa, Jaques Wagner. O petista disse que a votação de Messias deve ocorrer apenas em 2026.

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