Solidariedade de Lula à Venezuela pode travar negociações do tarifaço
Expecialistas veem risco diplomático na fala do presidente, mas avaliam que impacto dependerá da resposta dos EUA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que vai participar da cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), na Colômbia, para “prestar solidariedade” à Venezuela diante dos ataques dos Estados Unidos.
A declaração, que reforça a aproximação de Brasília com Caracas, provocou avaliações divergentes entre especialistas em relações internacionais.
Advogada e professora de direito internacional da USP (Universidade de São Paulo), Maristela Basso considera a fala de Lula “totalmente desnecessária” e com potencial para prejudicar as negociações comerciais em andamento.
“Não é a primeira declaração inapropriada do presidente Lula. Na anterior, o presidente Trump fez vistas grossas. Nessa última, provavelmente não fará. É uma lástima que Lula priorize os parceiros ideológicos em detrimento dos interesses do Brasil”, criticou.
Professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker avalia que a sinalização do governo brasileiro é arriscada neste momento, especialmente pela sensibilidade do presidente americano, Donald Trump, a alianças que ele percebe como sendo de esquerda.
“Trump pode entender que é uma ação coletiva contra os Estados Unidos, romper o processo de negociação e voltar às investidas contra o Brasil”, avalia Holzhacker.
Segundo a professora, o gesto de Lula pode ser entendido de duas formas: como tentativa de alavancar a posição do Brasil nas negociações bilaterais ou como um movimento que provoque desconfiança em Washington.
No cenário mais favorável, o Brasil se coloca como um possível mediador entre os Estados Unidos e a Venezuela, usando sua interlocução com Caracas para manter canais diplomáticos abertos. No cenário negativo, afirma Denilde, “Trump pode puxar o freio de mão”, diminuindo o ritmo das negociações tarifárias em andamento.
Lula se preocupa com conflito, diz professor
Professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília), Roberto Goulart Menezes tem uma leitura distinta.
Para ele, Lula não manifestou apoio ao governo de Nicolás Maduro, mas a um país soberano da América do Sul, em um contexto de preocupação com uma possível escalada militar dos Estados Unidos.



