Mundo

Versões divergem sobre danos a usinas iranianas após ataques dos EUA

Enquanto Donald Trump reafirma ter aniquilado a capacidade nuclear iraniana, chefe da AIEA estima que, em breve, a produção poderá ser retomada. Teerã externa "sérias dúvidas" a respeito da manutenção do cessar-fogo por parte de Israel

Nove dias após os ataques norte-americanos a instalações nucleares iranianas, a real extensão dos danos é uma incógnita. Se, de um lado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insiste ter aniquilado a capacidade de enriquecimento de urânio da República Islâmica, de outro, aumentam sinais do contrário. 

Num prognóstico que se choca frontalmente com a avaliação de Trump, o chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, estima que Teerã poderá retomar sua produção em “questão de meses”. Proibido de entrar em território iraniano, o diplomata argentino reconheceu, em entrevista que o bombardeio dos EUA a três instalações nucleares iranianas causou danos graves, mas “não totais”.

“As instalações que eles têm estão lá. Eu diria que, em questão de meses, ou até menos, algumas centrífugas podem voltar a enriquecer urânio”, disse o chefe da AIEA, na entrevista divulgada na noite de sábado. Ele assinalou, ainda, que o Irã tem urânio enriquecido a 60% em estoque, o que poderia ser usado para fazer até 9 bombas nucleares se for processado até 90%.

“Não sabemos onde esse material pode estar”, admitiu Grossi à CBS. “Uma parte pode ter sido destruída nos ataques, mas outra parte pode ter sido transferida. Portanto, em algum momento, tem que haver um esclarecimento”, acrescentou.

Informações obtidas pelo The Washington Post também indicam que o baque pode não ter sido tão avassalador. Segundo o jornal norte-americano, comunicações iranianas interceptadas relativizaram o impacto dos ataques.  A Casa Branca rejeitou a reportagem. “O programa de armas nucleares deles acabou”, asseverou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, segundo o Post.

O próprio Donald Trump voltou a exaltar o sucesso da operação, frisando que todas as plantas nucleares foram destruídas. O presidente acusou a CNN e o The New York Times de mentir por afirmarem que o dano teria sido menor.

Em meio às várias versões, a República Islâmica não dá detalhes da situação. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Aragchi, disse que os estragos foram “significativos”, mas pormenores são desconhecidos. Na semana passada, legisladores iranianos aprovaram a suspensão da cooperação com a AIEA, e Teerã rejeitou o pedido de Grossi para visitar as instalações, especialmente Fordo, a principal usina de enriquecimento.

Numa conversa por telefone, ontem, com o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, o líder francês, Emmanuel Macron, cobrou o “retorno à mesa de negociações para tratar das questões balísticas e nucleares”. “É essencial manter o marco do Tratado de Não Proliferação Nuclear e retomar rapidamente os trabalhos da AIEA no Irã para garantir total transparência”, afirmou.

Trégua frágil

Após 12 dias de guerra, Israel e Irã entram, hoje, no sétimo dia de uma trégua considerada frágil pelos envolvidos. “Não provocamos a guerra, mas respondemos ao agressor com todas as nossas forças”, disse o chefe do Estado-Maior das forças armadas iranianas, Abdolrahim Musavi, referindo-se a Israel.

“Temos sérias dúvidas sobre o respeito de seus compromissos, inclusive o cessar-fogo, e estamos prontos para uma resposta contundente”, acrescentou, em ligação telefônica com o ministro da Defesa saudita, o príncipe Khaled bin Salman, segundo a televisão iraniana.

Em carta dirigida ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o governo iraniano pediu que a ONU reconheça que Israel e Estados Unidos foram os responsáveis pelo conflito. Segundo o Ministério da Saúde iraniano, pelo menos 627 pessoas morreram e aproximadamente 4.900 ficaram feridas no conflito. Os ataques em represália deixaram 28 mortos, de acordo com as autoridades israelenses.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo