Ovo vira símbolo da inflação dos alimentos que perturba o governo Lula
Forte demanda e a escassez da oferta têm forçado o aumento nos preços dos ovos, o que vem impactando o bolso dos consumidores

Perseguido pela alta inflação dos alimentos, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê outro problema surgir com a “crise dos ovos”. Em janeiro, os preços da proteína chegaram a subir até 40% no mercado nacional. A forte demanda do produto e a escassez da oferta têm forçado o aumento nos preços dos ovos para o consumidor final.
Especialistas explicam que diversos fatores têm contribuído para a elevação dos preços dos ovos. Entre eles, destacam-se o aumento nos custos de produção, especialmente devido ao encarecimento do milho e da soja (essenciais na alimentação das aves), e às altas temperaturas registradas no início do ano.
Além disso, a quaresma – tradição do cristianismo, que começa após o Carnaval, período em que são praticados penitência, jejum e caridade – e o aumento no preço das carnes (avanços de 0,36% em janeiro e de 21,17% em 12 meses) ampliam a demanda por ovos.
A crise dos ovos
- O preço dos ovos de galinha teve alta de 40% na segunda quinzena de janeiro, segundo a Abras.
- Os preços dos ovos de galinha cresceram 0,89% em janeiro e recuaram 1,91% em 12 meses.
- Para o presidente Lula, é “absurdo” uma caixa com 30 ovos ser vendida a R$ 40.
- Governo aposta na queda do dólar (que recuou em torno de 10% nos últimos 60 dias) e na “supersafra” de 2025.
- A inflação acumulada em 12 meses é de 4,56%. No mês passado, o grupo Alimentação e bebidas subiu 0,96%.
- A inflação de alimentos passou de -0,5% em 2023 para 8,2% em 2024.
A professora de economia Cristina Helena de Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ressalta que os Estados Unidos (EUA) estão sofrendo com um surto de gripe aviária, o que provocou o desabastecimento de ovos no país.Play Video
Consequentemente, a demanda mundial por ovos cresceu, impulsionando os preços no mercado internacional. Após o surto da doença nos EUA, os preços subiram bastante e uma dúzia de ovos chegou a custar mais de R$ 60.
Mello destaca que esse cenário em mercearias e mercados norte-americanos “tornou a exportação de ovos mais atrativa do que a venda no mercado interno”, em razão da combinação da valorização do dólar e da demanda do mercado dos EUA.
Cerca de 18,4 mil toneladas de ovos foram exportadas em 2024, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Só em janeiro, os EUA importaram 220 toneladas — um crescimento de 22% em comparação ao mesmo período do ano passado.
Embora em alta, as exportações de ovos têm efeito “nulo” sobre a oferta interna, ressaltou a ABPA. Segundo a associação, a venda da proteína para o exterior representa menos de 1% das 59 bilhões de ovos que deverão ser produzidos neste ano.