Por Rodolfo Borges / O Antagonista
Davi Alcolumbre (União-AP) voltou à presidência do Senado no sábado, 1º, dizendo que “nenhuma das diferentes correntes políticas é puro anjo ou demônio“. É verdade, não há anjos no Congresso Nacional, ou há muito poucos, purificados pela irrelevância no jogo político.
No último grande acordo em Brasília, como esses que levaram à eleição de Alcolumbre no Senado e de Hugo Motta (Republicanos-PB) na Câmara, um grupo político foi retirado do inferno no qual tinha sido jogado pelas investigações da Operação Lava Jato – isso ocorreu com a anuência do grupo de oposição, que tinha também seus interesses na história.
Esse outro grupo político – até onde é possível fazer essa distinção — tenta agora evitar sua própria queda em desgraça. O PL de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto aprendeu a lição dada por Rodrigo Pacheco (PSD-MG) após a candidatura derrotada de Rogério Marinho (PL-RN) em 2022, e resolveu não desafiar a candidatura vencedora para não perder espaço na divisão do poder.
Ficha limpa?
Nessa decisão há um cálculo para outra eleição. O PL se prepara para conquistar a maioria do Senado em 2026 e, aí sim, conseguir tomar o comando da Casa, para enfim iniciar o processo de impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas há mais na mesa.
Os aliados de Bolsonaro alimentam a expectativa de aprovar um projeto de lei que afrouxe a Lei da Ficha Limpa e ponha fim à inelegibilidade do ex-presidente. Não haveria a possibilidade de negociar isso sem uma ponte com Alcolumbre e Motta.
Alcolumbre disse, em entrevista após ser eleito, que uma anistia a quem participou do vandalismo do 8 de janeiro de 2023 – e, por extensão, a Bolsonaro – “não vai pacificar o Brasil”, apesar de sinalizar com a intenção de colocar o assunto em debate. Mas, como demonstra a estratégia da Ficha Limpa, esse não seria o único caminho para purgar o passado de Bolsonaro.
E o STF?
Caso essa estratégia logre sucesso, haveria ainda o STF com que se entender, porque o ex-presidente foi indiciado junto com quatro dezenas aliados por tentativa de golpe de Estado, e todos aguardam a denúncia da Procuradoria Geral da República sobre o assunto.
Uma condenação criminal sepultaria de vez as pretensões de Bolsonaro. Nesse caso, um possível novo grande acordo em Brasília teria, mais uma vez, de levar em conta os potenciais benefícios para a outra “corrente política”. A grande vantagem de Lula, hoje, é não ser Bolsonaro – e vice-versa.
Manter o maior adversário longe do inferno pode restar como o único trunfo do petista para 2026. Bastaria, digamos, que um ministro com a “cabeça política” ou com “leitura política” no STF ajudasse nesse entendimento. Afinal, Lula só precisaria de Bolsonaro vivo politicamente até a próxima eleição – o que acontecer depois disso não lhe interessaria mais.
Não seria a primeira vez que um ex-presidente deixou o inferno com ajuda do maior adversário.