O que aconteceria se Trump taxasse produtos brasileiros em 100%?
Presidente dos Estados Unidos já ameaçou mais de uma vez taxar produtos do Brasil. Medida não tem simples aplicação, diz especialista
A possível taxação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos pode levar a um rearranjo entre fornecedores e compradores. Até o momento, não há medida concreta nesse sentido, mas, desde que foi eleito, o presidente Donald Trump já falou abertamente sobre essa possibilidade duas vezes.
Os setores produtivos brasileiros e o governo federal estão cautelosos quanto ao tema. O Poder Executivo não emitiu nenhum comunicado oficial sobre a possível taxação de produtos brasileiros nos EUA.
O que está acontecendo
- Trump determinou revisão nas exportações e importações dos EUA com outros países.
- O presidente quer saber se há déficit comercial com algum país e de quanto.
- As falas e ações de Trump são uma maneira de ele dar sustentação ao slogan de campanha que prometia fazer a América grande novamente.
A taxação significa que os produtos brasileiros adquiridos nos Estados Unidos vão ficar mais caros lá. Por exemplo, se uma saca de 60 kg de café chegar hoje ao país por R$ 2,5 mil, com taxação de 100%, passaria a custar o dobro: R$ 5 mil.
Economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) e conselheira do Conselho Regional de Economia da 2ª Região (Corecon-SP), Carla Beni explica que taxação aos produtos brasileiros não é algo de fácil aplicação, na prática.
“Um comprador dos Estados Unidos que adquire café pode escolher outro país para compra, sem ser o Brasil. Mas essas coisas não são tão simples nem tão rápidas, porque são contratos extremamente complexos”, ressalta Beni.
A especialista lembra que as relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos têm cerca de 200 anos de existência. A economista trata do assunto com cuidado, mas acredita que o Brasil faria retaliação da mesma forma, como disse o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Se Trump taxar os produtos do Brasil, haverá reciprocidade“, alertou Lula na última quinta-feira, (30), durante entrevista coletiva.
Por tabela
Outra consequência da possível taxação dos produtos importados nos Estados Unidos é um efeito em cadeia, que acabaria impactando o Brasil por tabela. Como a sobretaxação pode aumentar o preço dos produtos no mercado interno dos EUA, isso pode aumentar a inflação por lá.
O Banco Central dos Estados Unidos (FED), inclusive, está atento a isso. Na última ata de reunião que foi divulgada, referente a dezembro de 2024, o FED sinalizou que as possíveis medidas de Trump têm chance de implicar demora na redução da taxa básica de juros dos EUA. Hoje, ela varia de 4,25% a 4,5%.
A consequência para o Brasil dos juros mais altos lá seria um direcionamento maior de investidores e, consequentemente, dólares para a economia americana. Isso pode fazer o dólar voltar a subir aqui.
No momento, o fato de Trump ainda não ter implantado nenhuma taxação influenciou significativamente a queda do dólar no Brasil. A moeda encerrou a sexta-feira, (31), cotada a R$ 5,81.
Em dezembro de 2024, após ser eleito, Trump ameaçou taxar o Brasil. Ele disse que o país “taxa muito” os EUA. Na sexta-feira, o presidente norte-americano disse que o bloco econômico Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, receberia tarifa de 100%.
Também na sexta, a Casa Branca confirmou taxas de 25% para Canadá e México e 10% para China.
O que dizem os números
De janeiro a dezembro de 2024, o Brasil exportou US$ 40,33 bilhões para os Estados Unidos. No mesmo período, importou US$ 40,58 bilhões dos norte-americanos. Isso representa déficit de US$ 253,3 milhões na balança comercial. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, respondendo por 12% das exportações e 15% das importações.
Os três produtos brasileiros mais importados pelos EUA são: óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus, produtos semiacabados, lingotes e outras formas primárias de ferro ou aço e aeronaves e produtos relacionados.