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Falido nos EUA, laboratório da crise de opioides faz fortuna no mundo

Táticas usadas para convencer médicos americanos de que opioides poderiam ser prescritos com segurança foram replicadas ao redor do mundo

A Purdue Pharma, farmacêutica acusada de ser uma das protagonistas da crise de opioides nos Estados Unidos, declarou falência à Suprema Corte americana em 2019, mas, ao redor do mundo, suas empresas continuam vendendo os mesmos opioides que causaram a morte de mais de 500 mil pessoas desde 1999.

Uma investigação mostrou a atuação da Mundipharma, distribuidora dos opioides da Purdue Pharma, no Brasil. Hoje, 18 de setembro, a reportagem revela mais detalhes de como a farmacêutica vem lucrando milhões em diversos países.

Entre os beneficiários da fortuna estão alguns membros da família Sackler, que são proprietários da Purdue Pharma e da Mundipharma. A família enfrenta uma onda de litígios devido ao papel da Purdue na crise causada pelo marketing massivo da farmacêutica em cima de um remédio com alto poder de adicção: o OxyContin, à base do cloridrato de oxicodona, substância 150% mais forte que a morfina.

Algumas das mesmas táticas usadas para convencer uma geração de médicos americanos de que analgésicos potentes poderiam ser prescritos com segurança foram replicadas no exterior.

No Brasil,a empresa pagou médicos considerados “formadores de opinião” para realizarem aulas sobre tratamento de dor com opioides, além de ter investido dinheiro em uma sociedade médica para a promoção da prescrição de seus medicamentos. A Mundipharma afirmou, no dia 21 de agosto de 2024, que seus produtos “não devem desempenhar um papel importante em qualquer abuso de medicamentos opioides prescritos” no país, uma afirmação contestada por especialistas em dependência.

A Mundipharma alegou que os opioides “fortes” agora representam uma parcela menor das vendas totais das empresas ao redor do mundo, que se diversificaram para outros tratamentos. A farmacêutica ressaltou que se esforça para cumprir as leis e regulamentações locais e que “trabalha com autoridades locais para monitorar possíveis desvios ou abusos de medicamentos”.

Mas especialistas que monitoram o uso de opioides no mundo já acenderam o alerta. Segundo Andrew Kolodny, diretor médico do Opioid Policy Research Collaborative na Universidade Brandeis, nos Estados Unidos, as prescrições de opioides e as mortes por overdose na Europa e em outras partes do mundo ainda não chegaram aos níveis americanos, mas aumentaram na última década “porque as empresas farmacêuticas estão usando a mesma cartilha que nos EUA”.

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