Mais jovem presidente de escola de samba, Rebeca Lima fala dessa experiência que considera incrível
Gestão de pessoal e o enfrentamento ao preconceito por ser mulher no comando foram algumas das dificuldades que a presidente da agremiação do Laguinho teve que enfrentar.
Por Gilvana Santos
Nascida em Macapá, no dia 2 de fevereiro 1986, Dia de Iemanjá, Rebeca Lima surge no cenário carnavalesco como uma revelação no modo de gerir a escola de samba que preside, Piratas Estilizados. A “caçula” dos presidentes chegou devagar e logo foi se destacando pelo modo firme de seus posicionamentos nas reuniões da Liga Independente das Escolas de Samba do Amapá (Liesap), mostrando desenvoltura e articulação política na busca por recursos junto ao empresariado e parlamentares e inovação com parcerias que tiveram reflexo na economia estadual.
Sua história na escola começou cedo, desfilando pela primeira vez ainda criança porque a família era toda engajada no Estilizados. O pai Valmik Monteiro foi vice-presidente e o único título da agremiação, em 1996, foi conquistado na presidência de seu tio, Pedro Nascimento, o Pedrinho. Foi ritmista, rainha de bateria e membro da diretoria na gestão do então presidente Diego Cearense, no Carnaval 2023.
A decisão de concorrer à presidência da mais querida do carnaval amapaense implicou em decisões difíceis para Rebeca porque até então estava com as duas filhas morando em Belém e cursando Medicina. Ela contou com o apoio do marido, Tiago, do pai e dos irmãos Pablo e Ícaro para decidir.
“Quando tomei a decisão de vir à presidência pairou um certo medo. Fui incentivada por nosso ex-presidente Diego Cearense, até que bati o martelo e voltei de forma definitiva para Macapá, em julho do ano passado, quando começou a caminhada nesse novo desafio. Nosso projeto estava pronto, com profissionais pré-acordados e as reuniões eram feitas por videoconferência”, relata Rebeca.
Gestão de pessoal e o enfrentamento ao preconceito por ser mulher no comando foram algumas das dificuldades que a presidente da agremiação do Laguinho teve que enfrentar.Gestão de pessoal e o enfrentamento ao preconceito por ser mulher no comando foram algumas das dificuldades que a presidente da agremiação do Laguinho teve que enfrentar.
“Sabia que não seria fácil, afinal gerir pessoas sempre é um grande desafio, mas sempre tentei trabalhar com diálogo, sendo franca e verdadeira, sem perder a doçura que nós mulheres temos. Mantive o pulso firme, quando necessário, porque afinal, ser mulher no meio que quase majoritariamente é comandado por homens temos que mostrar firmeza e, por diversos momentos, tive que repetir várias vezes a mesma fala para que pudesse ser ouvida e respeitada. Mas não esmoreci e nem perdi o foco”, afirma.
Rebeca Lima também relata que um dos seus maiores anseios era conseguir agregar a comunidade e trazer novos adeptos a esse amor alaranjado. Para isso, trabalhou paralelo ao projeto de desfile os projetos: “Talento se faz em casa” para formação de ritmistas para a Orquestra de Bambas, Escolinha de Casais de Mestre sala e Porta Bandeira – Durica Almeida e a programação cultural “Samba Alaranjado”. “Foi uma experiência incrível, senti o coração quentinho quando via pessoas que há anos não participavam das atividades momescas da nossa escola, e isso me impulsionou cada vez mais”, observou.
“Chegando hoje a poucas horas do nosso desfile eu posso dizer que, absolutamente tudo, valeu a pena. Piratas Estilizados vem com um projeto inovador e ousado, arrisco até a dizer que será entregue o maior espetáculo que o carnaval Amapaense já viu, e o maior projeto de Carnaval que a mais querida já realizou. Isso tudo só foi possível porque eu tive pessoas incríveis ao meu lado, não por levantar bandeira da gestão, mas por levantar e acreditar na maior bandeira de todas, a que leva as cores laranja, verde, preto e branco. Porque Piratas Estilizados sempre foi e sempre será maior que qualquer um. Existe escola de samba porque existe uma comunidade aguerrida em dar seu melhor para fazer tudo dar certo”, ressaltou a jovem presidente.
Ao final da entrevista, Rebeca manifestou gratidão a Deus, por mantê-la de pé em todos os momentos, à família que considera seu esteio e a todos os apoiadores, patrocinadores, profissionais, diretoria da escola, aos que participam dos pontos técnicos, e claro, agradecimento especial à comunidade alaranjada.
“Chegou o grande dia de encantarmos e energizarmos o templo do Carnaval Amapaense. Com as bênçãos de Deus e nossos Orixás, vamos mostrar um desfile belíssimo, e na quarta-feira de cinzas, soltarmos o grito de É CAMPEÃO!”, finalizou.
Piratas Estilizados é a 4ª escola a desfilar nesta sexta-feira (9), às 2h45, no Sambódromo, no primeiro dia dos Desfiles das Escolas de Samba do Amapá. Traz para a avenida o enredo: “A Energia que Conduz a Paixão Alaranjada”, com estimativa de 1.000 brincantes.