Brasil pode viver apagões digitais que paralisam serviços essenciais
Dependência de tecnologia estrangeira e infraestrutura concentrada expõem o país a falhas

O Brasil corre o risco de enfrentar apagões digitais capazes de interromper serviços essenciais como energia, telecomunicações, pagamentos, logística e saúde. O alerta está no estudo Futuro mais seguro: o futuro da segurança pública brasileira, do TCU (Tribunal de Contas da União), que aponta a crescente dependência de infraestruturas digitais e de fornecedores estrangeiros como um fator crítico de vulnerabilidade
Segundo a advogada Bianca Mollicone, especialista em regulação de novas tecnologias, um apagão digital não se limita a falhas pontuais de internet. Trata-se da interrupção grave de sistemas automatizados, dados e inteligência artificial que sustentam a operação de serviços essenciais.
“Se esses sistemas forem comprometidos, o efeito é imediato, porque não há operação manual equivalente capaz de sustentá-los”, explica.
O estudo do TCU descreve um cenário de risco sistêmico: infraestruturas altamente interligadas tendem a propagar falhas em cadeia. Um problema em grandes provedores de nuvem ou em sistemas de comunicação, por exemplo, pode afetar simultaneamente energia, transporte, hospitais, meios de pagamento e serviços públicos digitais.
Para Mollicone, a dependência crescente de automação sem governança adequada amplia não apenas o risco técnico, mas também o risco jurídico, ao ameaçar a continuidade de serviços que o Estado é constitucionalmente obrigado a garantir.
Episódios recentes reforçam o alerta. Em julho de 2024, uma falha em um software de cibersegurança da empresa norte-americana CrowdStrike derrubou sistemas no mundo inteiro, afetando companhias aéreas, hospitais e serviços financeiros, inclusive no Brasil. O caso evidenciou a fragilidade de uma infraestrutura digital global concentrada e a vulnerabilidade de países que não controlam tecnologias críticas.
Outro ponto destacado pela especialista é a concentração geográfica dos data centers brasileiros, sobretudo em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. Segundo alertas da Anatel citados no debate, essa concentração aumenta o risco de paralisações simultâneas em caso de incidentes físicos ou falhas sistêmicas.
A medida provisória que criou o programa Redata busca incentivar a descentralização desses centros, mas seus efeitos ainda são de médio e longo prazo.



