Estudo mapeia poluição global e alerta para contaminação crítica em rios e mares
Segundo levantamento da Fapesp, 46% dos ambientes aquáticos do planeta são considerados "sujos" ou "extremamente sujos"

Um levantamento realizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), divulgado em novembro deste ano, demonstrou que 46% dos ambientes aquáticos do planeta são considerados “sujos” ou “extremamente sujos”. Além disso, o estudo deflagrou o que seria o “efeito de borda” – fenômeno que prova como a ação humana é determinante na poluição das águas.
Para mapear, os pesquisadores Ítalo Braga de Castro e Victor Vasques Ribeiro, do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), analisaram artigos entre os anos de 2013 e 2023. A equipe averiguou o nível de limpeza de rios, estuários, praias e manguezais do mundo inteiro com base no Clean-Coast Index (CCI), métrica internacional que quantifica a densidade de resíduos sólidos em ambientes costeiros.
A maioria esmagadora dos resíduos encontrados nas águas é feita de plástico, representando quase 70% da poluição aquática. Segundo explica a pesquisa, isso se dá pelo longo tempo de decomposição, pela fragmentação em micro e nanoplásticos e pelo transporte por correntes oceânicas a grandes distâncias.
Outro problema identificado se repousa nas bitucas de cigarro, assinando 11% dos resíduos encontrados. Isso porque elas liberam mais de 150 substâncias tóxicas para as águas, o que pode prejudicar animais desse habitat.
O levantamento ainda evidenciou o quão eficiente são as áreas de proteção ambiental: “analisamos 445 áreas protegidas em 52 países. A conclusão é inequívoca: a proteção reduz a contaminação em até sete vezes. Cerca de metade das áreas protegidas investigadas foi classificada como ‘limpa’ ou ‘muito limpa’”, disse Danilo Freitas Rangel, mestrando do IMar-Unifesp que participou da equipe de pesquisadores.
Efeito de borda
Um fenômeno constatado na fronteira das zonas de preservação é o chamado de “efeito de borda”. Calculando cada ponto de amostragem até os limites das áreas protegidas, os pesquisadores perceberam que um padrão se repetia – o lixo se acumula majoritariamente nas beiradas dessas áreas.
O estudo argumenta que o acúmulo de resíduos nas bordas de zonas de conservação demonstra como a ação humana irradia poluição até o limite possível, concentrando-se nas fronteiras mais vulneráveis. Segundo o coordenador Íttalo Braga de Castro, esse efeito é reforçado por pressões externas como turismo, urbanização próxima e transporte de resíduos por rios e correntes marinhas.



