Lei inclui Pacaraima na Área de Livre Comércio — mas Oiapoque e Laranjal do Jari seguem esquecidos
Ministro Waldez Góes, amapaense e ex-governador, articula benefício para Roraima enquanto fronteiras estratégicas do Amapá continuam fora do mapa federal

A sanção da Lei nº 15.273/2025, que inclui Pacaraima (RR) na Área de Livre Comércio de Boa Vista, foi comemorada em Roraima. A medida abre portas para importação e exportação com regime fiscal especial, estimulando o comércio e a integração transfronteiriça. Porém, no Amapá, o sentimento dominante é outro: frustração.
O texto legal é assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Antônio Waldez Góes — amapaense, ex-governador do Amapá por quatro mandatos (16 anos). Mesmo assim, duas fronteiras estratégicas do estado seguem ignoradas: Oiapoque e Laranjal do Jari.


Oiapoque talvez seja o caso mais emblemático. A cidade faz divisa diretamente com a Guiana Francesa — território da França e, portanto, porta oficial de entrada para a União Europeia na América do Sul. Trata-se de uma fronteira internacional com enorme potencial econômico, turístico e diplomático. A integração comercial com a Europa é um ativo que poucos municípios brasileiros possuem, e que poderia ser explorado de forma muito mais ampla com uma Área de Livre Comércio. Agora com o Petróleo em evidência, o setor pesqueiro tão fundamental para centenas de famílias, o cacau reconhecido internacionalmente e tantos outros segmentos. Como a ALC poderia alavancar ainda mais a região conhecida por “Onde Começa o Brasil”.
Mas não é tudo. Laranjal do Jari, no extremo sul do Amapá, divide fronteira com o Pará e possui histórico industrial ligado ao setor florestal, celulósico e agrícola. A região poderia se beneficiar de incentivos aduaneiros e fiscais para exportação e reindustrialização, mas também ficou fora da nova estrutura tributária especial. Com a ALC beneficiando o sul do Amapá, os incentivos ajudariam na retomada definitiva da Jari Celulose, empresa responsável pela criação do vale. A castanha daquela região tão peculiar e acolhedora e, do lado do Pará, Monte Dourado, distrito de Almeirim, cuja ponte que liga o Amapá ao resto do Brasil sequer foi concluída. Com benefícios dessa monta, certamente a interligação seria concluída, e o Amapá seria de fato Brasil. Não mais pela questão franco-brasileira, mas pela logística, pela integração e pelo desenvolvimento regional, nomes do ministério de Góes.
Com Pacaraima contemplada e o Amapá esquecido, a pergunta que ecoa é inevitável: por que Roraima avança e o Amapá não?
Como compreender que um ministro amapaense priorize uma pauta econômica de outro estado, enquanto dois municípios estratégicos do seu próprio permanecem invisíveis ao governo federal? A crítica ganha força porque Oiapoque e Laranjal do Jari aguardam há anos a mesma oportunidade que agora impulsiona o desenvolvimento de Pacaraima.
Para comerciantes, empresários e moradores das regiões de fronteira do Amapá, a sensação é de abandono. Uma área de livre comércio poderia gerar empregos, ampliar exportações, atrair investimentos, fortalecer o turismo e transformar a dinâmica econômica das duas cidades. O potencial existe — falta decisão política.
Se o Amapá não for defendido por quem nasceu aqui, governou aqui e conhece a nossa realidade, quem defenderá?
O debate está lançado, e o Brasil precisa olhar para o mapa com mais equilíbrio. Oiapoque e Laranjal do Jari não querem privilégios — querem oportunidade. Querem aquilo que Pacaraima recebeu. Querem ser parte do desenvolvimento que o Norte merece viver por inteiro.
E fica o questionamento: quando será a vez do Amapá?



