Geral

China amplia presença no Brasil com investimentos bilionários em portos, trens, energia e exportação agrícola

Estatais assumem operações estratégicas que redesenham a infraestrutura nacional

Os investimentos bilionários da China no Brasil já aparecem de forma direta na soja, nos portos, na energia e até nos trens de passageiros. Estatais chinesas assumem operações estratégicas, compram participações relevantes e ampliam capacidades logísticas em ativos que são centrais para o escoamento de grãos, petróleo e para o transporte de pessoas.

Ao mesmo tempo, grandes grupos chineses passam a controlar partes importantes da cadeia de exportação agrícola brasileira, da origem no campo até o embarque nos navios, além de participar de projetos de mobilidade e de geração e transmissão de energia.

Esse movimento redesenha a infraestrutura nacional e reforça o peso da China como parceira econômica do Brasil.

Exportação agrícola e avanço da COFCO em Santos

Um dos exemplos mais claros dessa presença é a COFCO, estatal chinesa que atua como grande tradings de grãos no país. A empresa compra soja, milho e açúcar no Brasil e vende para diversos destinos, incluindo a própria China, operando terminais portuários e estruturas logísticas ao longo da cadeia.

No porto de Santos, a COFCO já operava dois terminais e alugava instalações de outras empresas. Em março, inaugurou parcialmente um terceiro terminal, o TEC, também conhecido como STS11, que deve entrar em operação plena no ano que vem.

Com o novo terminal, a capacidade da companhia em Santos salta de 4 milhões para 14 milhões de toneladas por ano, tornando o ativo o maior terminal da COFCO fora da China.

Isso não significa necessariamente exportar 10 milhões de toneladas a mais, já que parte da carga hoje passa por terminais de outras empresas e pode ser redirecionada para o STS11.

Na prática, o movimento reduz custos de exportação para a COFCO e reforça o papel dos investimentos bilionários chineses na estrutura portuária brasileira ligada ao agronegócio.

Portos estratégicos e a ofensiva da CM Ports

Outro capítulo desse avanço está na área de contêineres. Cerca de 11 por cento dos 14 milhões de contêineres movimentados no Brasil passam pelo TCP, terminal de contêineres de Paranaguá, no Paraná. Desde 2018, o TCP integra o portfólio da CM Ports, estatal chinesa que é uma das maiores operadoras de contêineres do mundo.

A CM Ports já figura entre as principais operadoras de terminais do país e firmou, no início de novembro, um acordo com o governo brasileiro para investir um valor expressivo na ampliação do terminal em Paranaguá.

Esse pacote de investimentos bilionários amplia a capacidade de movimentação de contêineres e fortalece a posição da empresa na logística brasileira de comércio exterior.

O interesse da CM Ports não se restringe a contêineres. No Porto do Açu, no Rio de Janeiro, que hoje conta com 11 terminais e responde por cerca de 30 por cento das exportações brasileiras de petróleo, a estatal chinesa assinou em fevereiro de 2025 um acordo para comprar 70 por cento do terminal de petróleo, enquanto os outros 30 por cento permanecem com o grupo controlador atual.

O negócio ainda depende de aprovação de órgãos reguladores, mas, se concluído, a empresa passará a responder por uma fatia relevante da logística das exportações brasileiras de petróleo, reforçando o caráter estratégico desses aportes.

Trens de passageiros e projetos da CRRC

Os investimentos bilionários da China também chegam ao transporte de passageiros. O governo do estado de São Paulo leiloou em 2024 a concessão do trem intercidades, projeto que prevê a ligação ferroviária moderna entre São Paulo e Campinas.

O consórcio vencedor ficou dividido entre o Grupo Comporte, da família Constantino, com 60 por cento, e a estatal chinesa CRRC, com 40 por cento.

A previsão é que o trem intercidades consuma cerca de 14 bilhões de reais em investimentos ao longo do projeto, com parte desse valor vindo diretamente da participação chinesa.

A CRRC será responsável por parte da implantação do sistema e pela fabricação dos trens que vão operar na linha, consolidando sua atuação no mercado brasileiro de transporte ferroviário de passageiros.

Além disso, a CRRC venceu em 2025 uma concorrência para fornecer 44 trens ao metrô de São Paulo, em um contrato de 3,1 bilhões de reais, com montagem prevista em Araraquara, no interior do estado.

Esses contratos revelam como a experiência acumulada em projetos de porto, ferrovia e metrô na China é exportada para países com déficit de infraestrutura, como o Brasil.

Mostrar mais

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo