Curiosidades

Baía de Fundy (Canadá): O lugar onde o oceano “desaparece” e volta duas vezes por dia

A maior maré do mundo com 16m criam o desnível mais extremo do planeta e desafiam a lógica natural

Entre as províncias de Nova Escócia e Nova Brunswick, no leste do Canadá, existe um trecho de costa em que o oceano parece desobedecer qualquer lógica natural. É a Baía de Fundy, oficialmente reconhecida por instituições como o órgão de Pesca e Oceanos do Canadá como a região com maior amplitude de marés do mundo, com variações que podem chegar a 15 a 16 metros entre a maré baixa e a maré alta em determinados pontos.

Duas vezes por dia, todos os dias, o mesmo espetáculo se repete: o mar recua tanto que barcos ficam apoiados no fundo lamacento, pilares de pedra se revelam por completo e quilômetros de faixa antes coberta de água se transformam em um “deserto” temporário. Horas depois, a água volta com força, sobe o equivalente a um prédio de cinco andares e cobre tudo de novo. É essa alternância extrema que faz da Baía de Fundy um caso único no planeta.

Por que a Baía de Fundy tem as maiores marés do mundo

A explicação está em uma combinação rara de geografia, batimetria e física das marés. A Baía de Fundy tem formato de funil alongado, estreitando-se à medida que se afasta do oceano aberto. À medida que a maré vinda do Atlântico Norte entra nessa “calha” natural, a água é comprimida para dentro da baía, sendo obrigada a subir em altura.

Além disso, o tempo que a maré leva para entrar e sair coincide com o período natural de oscilação do corpo d’água no interior da baía. Ou seja, há um efeito de ressonância: o ciclo da maré e o “balanço” interno da água se reforçam mutuamente, como se a própria Baía de Fundy fosse um enorme instrumento musical amplificando a energia do oceano.

Medições oficiais indicam que em locais como Burntcoat Head a diferença entre a maré baixa e a maré alta atinge os maiores valores. Nessas áreas, a subida da água em questão de horas não é apenas uma curiosidade visual, mas um fenômeno com impacto real sobre portos, ecossistemas e até projetos de geração de energia.

Bilhões de toneladas de água em movimento a cada ciclo

Os dados coletados por pesquisadores canadenses mostram que, a cada ciclo completo de maré, o volume de água que entra e sai da Baía de Fundy é maior do que a vazão somada de todos os rios do planeta no mesmo intervalo de tempo.

Em termos práticos, isso significa que bilhões de toneladas de água se deslocam para dentro e para fora da baía duas vezes por dia.

Esse movimento colossal gera:

• correntes extremamente fortes, sobretudo em canais estreitos
• áreas de turbulência e redemoinhos, conhecidos localmente como “reversing falls”
• forte mistura de águas superficiais e profundas, enriquecendo o ambiente com nutrientes

É por isso que a Baía de Fundy também é considerada uma das zonas costeiras mais ricas em biodiversidade do Atlântico Norte, com presença de baleias, aves marinhas, peixes migratórios e uma cadeia inteira de vida que depende desse “pulso” constante do mar.

Quando o mar recua: a paisagem que se transforma em questão de horas

Em maré baixa, determinadas áreas da costa se transformam completamente. Em trechos como Hopewell Rocks, formações rochosas esculpidas pela erosão surgem por inteiro, revelando pilares altos e estreitos, coroas de vegetação na parte superior e bases marcadas por séculos de impacto das ondas. Os visitantes podem literalmente caminhar pelo fundo da baía, pisando onde, poucas horas antes, barcos flutuavam.

O contraste visual é tão grande que os mesmos fósseis, rochas e paredões podem ser observados em dois “mundos” diferentes no mesmo dia: um marítimo e outro terrestre. Esse cenário inspirado em marés extremas é amplamente utilizado por geólogos e biólogos como laboratório natural para entender processos de erosão, sedimentação e adaptação de espécies a ambientes altamente dinâmicos.

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