Saúde

Desigualdade afeta tratamento de câncer de mama em mulheres negras

Mulheres de pele escura têm risco 60% maior de mortalidade por câncer de mama do que mulheres brancas, segundo dados do Inca

O câncer de mama é o tipo mais comum da doença entre as mulheres brasileiras, mas quando o recorte é racial, as diferenças no diagnóstico e tratamento mostram um cenário preocupante. Mulheres negras costumam descobrir a doença em estágios mais avançados, o que reduz as chances de cura e aumenta as taxas de mortalidade.

Embora representem a maioria das usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), muitas mulheres negras ainda enfrentam barreiras para realizar exames preventivos e acessar tratamentos de ponta. Nesse contexto, o diagnóstico chega tarde, os tumores são mais agressivos e o corpo, já sobrecarregado por uma vida de tensões, responde com fragilidade.

Tumores agressivos e diagnóstico tardio de câncer de mama

Entre as mulheres negras, é mais comum o câncer de mama triplo negativo, um subtipo mais agressivo e de evolução rápida. Ele recebe esse nome porque não responde aos três principais tipos de receptores hormonais usados no tratamento – estrogênio, progesterona e HER2.

Por isso, é mais difícil de tratar e exige terapias específicas, muitas vezes intensivas e com mais efeitos colaterais. A oncologista Alessandra Leite, coordenadora do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia Gama (DF), explica que ainda existe uma limitação do acesso aos medicamentos por parte do sistema público.

“As maiores evoluções em termos de medicação para esse subtipo de câncer de mama ainda não estão disponíveis no SUS. Todos esses fatores se refletem em maiores taxas de mortalidade nas mulheres negras”, afirma.

Racismo e estresse também afetam o corpo

O racismo e a discriminação racial não se limitam apenas à experiências sociais – eles produzem efeitos concretos no corpo. Pesquisas mostram que o estresse contínuo causado por situações de preconceito eleva os níveis de cortisol, altera o sono e reduz a produção de células de defesa.

Esse processo, conhecido como carga alostática, ocorre quando o organismo permanece em alerta por longos períodos, dificultando a recuperação natural e favorecendo inflamações.

“A exposição prolongada à discriminação faz o corpo funcionar como se estivesse sempre se defendendo. Esse esforço constante desgasta o sistema imunológico e interfere até na resposta aos tratamentos médicos”, explica a psicóloga Larissa Lopes, de Londrina (PR).

Somados à falta de acolhimento no atendimento médico, todos esses fatores interferem no comportamento de busca por cuidado. Muitas mulheres negras relatam medo, desconfiança e a sensação de não serem levadas a sério, o que pode atrasar o diagnóstico do câncer de mama e o início do tratamento.

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