“Blue Moon” conta com Ethan Hawke magnético em comédia de sutilezas
De forma nada ambiciosa, longa pinta retrato completo de Lorenz Hart

Quando um filme se propõe a ambientar quase todas suas cenas em um único cenário, é preciso ter algo de único para não deixar o espectador na mesmice. Em Os Oito Odiados, de Tarantino, a interação entre os personagens entra em ebulição ao longo da história; Meu Jantar com André, quase obrigatório para alunos de comunicação, evolui seus diálogos para uma verdadeira aula. Com Blue Moon, Richard Linklater encontra em Ethan Hawke sua força motriz.
A nova parceria entre ator e diretor conta um pouco da história de Lorenz “Larry” Hart (Hawke), compositor que você provavelmente conhece pela música que dá título ao filme. Em um bar, assistimos enquanto ele desabafa sobre quase tudo para o bartender Eddie (Bobbie Cannavale) e o pianista Morty (Jonah Lees).
Comicamente egocêntrico, Hart sequestra a atenção de todos os presentes enquanto tagarela sobre suas inseguranças: o romance não concretizado com Elizabeth (Margaret Qualley), e a parceria com Richard Rodgers (Andrew Scott), que parece cada vez mais próxima do fim. Rodgers, afinal, acaba de emplacar seu maior sucesso com Oklahoma!, musical feito ao lado de Oscar Hammerstein (Simon Delaney) após mais de 20 anos trabalhando com Hart.
Absolutamente tudo que passa na mente de Hart sobre ambas situações é externado por meio dos caracteristicamente excelentes diálogos de Linklater, entregues com um bom humor impecável por Hawke. Por algum motivo, o diretor também opta por transmitir algumas dessas nuances usando recursos visuais que beiram o brega, e acabam se sobressaindo em um filme essencialmente sutil.

Para reforçar a baixa estatura do protagonista, roupas largas e enquadramentos angulados aparecem com frequência, e a estética é reforçada com a presença do rival Hammerstein em tela. Mais alto e corpulento, Delaney se agiganta perto de Hawke – e na vida real eles têm quase a mesma altura. O mesmo vale para o diálogo mais longo com Elizabeth, que opta pelo ângulo mais injusto possível.
Essas obviedades não ofuscam as várias sutilezas do roteiro, que consegue ser verossímil o suficiente para que o espectador se sinta como mais um cliente no balcão de Eddie. Usando punchlines diretas, mas também arriscando piadas que testam a atenção do público, o protagonista fala sobre si o suficiente para que tenhamos uma compreensão quase completa de quem ele é: sua relação com o álcool, com o trabalho e até a sexualidade são reveladas nas nuances.

Esse intimismo se esvai conforme nos aproximamos do fim. Em um ambiente menos silencioso, Hart precisa dar tudo de si para não deixar suas inseguranças transbordarem de vez, e ele se apoia no público como confidente. O riso, que antes vinha pela irreverência, agora se torna nervoso ao ver as frustrações do compositor tomando forma.
Blue Moon é um ângulo diferente sobre o batido formato de “gênio problemático” que parece inescapável em histórias sobre artistas. O filme poderia apostar em conflitos mais diretos e retratar seu protagonista de forma ainda mais excêntrica, mas funciona justamente por escolher um recorte menos ambicioso.

- Blue Moon foi exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ainda não há previsão de estreia no circuito comercial brasileiro.
 
				 
					


