Brasil concentra mais da metade dos povos indígenas isolados do planeta
Mais de 120 povos indígenas vivem em isolamento no Brasil e enfrentam ameaças como desmatamento, mineração e ações de missionários e influenciadores

O Brasil abriga 124 povos indígenas que vivem em total isolamento, segundo um relatório divulgado pela ONG Survival International. O número representa a maioria entre os 196 povos indígenas isolados identificados em todo o mundo.
Além do Brasil, outros 64 grupos estão distribuídos entre Colômbia, Peru, Equador, Venezuela, Bolívia e Paraguai. Há ainda duas comunidades na Índia, quatro na Indonésia e duas na Papua Ocidental.
Mais de 96% desses grupos enfrentam ameaças diretas de atividades extrativistas, como exploração madeireira, mineração e extração de petróleo e gás. A extração de madeira, em particular, coloca em risco 65% dos povos isolados. O relatório aponta ainda que quase um terço deles está ameaçado por facções criminosas, enquanto o avanço do agronegócio afeta mais de 20%.
O documento alerta que o colapso climático e da biodiversidade representa uma ameaça grave para esses povos, que dependem completamente de ecossistemas preservados para sobreviver.
A Survival International denuncia ainda a atuação de missionários evangélicos que buscam converter indígenas ao cristianismo, além de influenciadores digitais que tentam se aproximar dessas comunidades para produzir conteúdo nas redes sociais, com objetivo de obter lucro por meio de assinaturas e publicidade.
A organização destaca que o direito internacional garante a proteção dos povos indígenas, inclusive os que optam por viver em isolamento. Para a ONG, é papel dos governos aplicar e fiscalizar as leis que garantem a segurança dessas comunidades e de seus territórios. “Quem viola essas leis deve ser responsabilizado”, afirma o relatório.
Dados recentes divulgados pelo IBGE mostram que a população indígena no Brasil cresceu nos últimos anos. O Censo Demográfico 2022 registrou 1.694.836 indígenas no país – um aumento expressivo em relação aos 896.917 registrados em 2010. O número de etnias subiu de 305 para 391, enquanto o de línguas indígenas faladas passou de 274 para 295.
Entre as maiores etnias estão a Tikúna (74.061 pessoas), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446). O estudo também revelou que, entre as 29 etnias com mais de 10 mil indivíduos, a Yanomami/Yanomán tem a maior proporção vivendo em Terras Indígenas: 94,34%. Ao todo, foram identificados 474.856 falantes de línguas indígenas com 2 anos ou mais de idade.



