O que muda com o reconhecimento da Palestina como Estado
O reconhecimento ocorre em meio à ofensiva israelense contra o grupo Hamas, em Gaza

A pressão internacional sobre Israel se aprofundou após diversos líderes mundiais reconhecerem a Palestina como Estado, na semana passada e durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos. Entre eles estão Reino Unido, Portugal, França, Bélgica, Andorra, Luxemburgo, Malta e Mônaco, levantando a questão de saber se o reconhecimento realmente altera o que acontece dentro do enclave palestino.
O reconhecimento do Estado da Palestina pelos países ocorre em meio à ofensiva israelense contra o grupo Hamas, em Gaza. O apoio ao reconhecimento surge em meio a uma onda de críticas ao governo de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, acusado de ser responsável pelo aumento da violência e da fome na região.
Estado da Palestina
- O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sofre severas críticas pelas ofensivas do exército israelense em Gaza.
- Durante seu discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), ele foi vaiado, e delegações de diversos países, incluindo o Brasil, se retiraram no momento em que entrou no plenário.
- Netanyahu afirmou que reconhecer a Palestina “é como dar um Estado à Al Qaeda” e alegou que não fará isso.
O Reino Unido, o Canadá e a Austrália haviam anunciado, um dia antes do início da Assembleia Geral da ONU, que reconheciam o Estado da Palestina.
Nas redes sociais, o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, afirmou que, para reviver a “esperança de paz para palestinos e israelenses e uma solução de dois Estados, o Reino Unido reconhece formalmente o Estado da Palestina”.
Os líderes do Canadá e da Austrália também seguiram a decisão de Starmer e pediram, em troca, que o Hamas não tenha “nenhum papel na Palestina”. Outros países reconheceram o Estado palestino durante a Assembleia, como França, Bélgica, Andorra, Luxemburgo, Malta e Mônaco.
Apesar do reconhecimento, os Estados Unidos continuam se recusando a fazer o mesmo. O presidente norte-americano, Donald Trump, criticou a decisão feita por outros países e sinalizou que não o fará.
Mais de 150 dos 193 Estados-membros da ONU reconhecem a independência palestina. O Estado enfrenta a negação de países como Itália, Japão e Nova Zelândia, além de Israel, seu principal inimigo.
Simbologia
João Miragaya, mestre em história pela Universidade de Tel-Aviv, assessor do Instituto Brasil-Israel e membro do podcast Do Lado Esquerdo do Muro, contou que o reconhecimento da Palestina como Estado “não tem impacto prático nenhum”.
“Isso [o reconhecimento] tem um impacto simbólico. É uma mensagem enviada ao governo israelense: ‘Vocês estão falando em limpeza étnica, em expulsão da população palestina, em construção de assentamentos na Cisjordânia, para que a gente esqueça o Estado palestino”, pontuou Miragaya.
Segundo o especialista, o a decisão dos países “é uma resposta; a resposta é reconhecer”, e indica que continuarão lidando com a situação como se estivessem caminhando “para o Estado palestino”.
“Então, basicamente, no mundo da justiça prática, essa decisão – a decisão desses países de reconhecer o Estado palestino – é uma resposta. É a política do governo, mas também uma resposta simbólica no âmbito diplomático”, destacou.
O reconhecimento não é uma resposta prática, segundo Miragaya, e não surte efeito nenhum, assim como as decisões da Assembleia-Geral da ONU. “Israel não teme que seja criado o Estado da Palestina, nem através da iniciativa franco-saudita, nem através do reconhecimento em massa”, destacou.