Crítica

Sujo e direto, “Animais Perigosos” nada de braçada no mar do terror B

Filme com “serial killer dos tubarões” é mais sombrio que o esperado

Nessa era de filmes de terror “espertinhos”, que competem pela atenção do público, basicamente, através da excentricidade de sua premissa, parecia fácil ajustar suas expectativas para Animais Perigosos. Este é, afinal, o “filme do serial killer dos tubarões”. O assassino (Jai Courtney) literalmente mata suas vítimas atirando-as aos grandes predadores marinhos. E dá-lhe galhofa, certo? Bom… mais ou menos, e mais pra menos.

O roteirista Nick Lepard, que faz aqui sua estreia na tela grande e logo estará de volta com o bem mais prestigioso Para Sempre Minha (o próximo filme de Oz Perkins, de Longlegs e O Macaco), simplesmente não se dispõe a ignorar o coração sombrio da história que tem para contar. Ao invés de uma piscadela pós-moderna para o público do trash, ele faz de Animais Perigosos um terror B sujo, maldoso e sem pedir desculpas por isso. 

Ademais, o filme ainda é penetrante na inflexibilidade que emprega em seu retrato de personagem. Na pele do tal “serial killer dos tubarões”, o subestimado ator australiano Jai Courtney – mais conhecido do público hollywoodiano como o Capitão Bumerangue de Esquadrão Suicida (2016) – segue a deixa do texto e se entrega a um personagem abertamente desagradável. O seu assassino é um homem sem mistério, sem sofisticação, sem um trauma intrincado que o torne atraente como criação ficcional. 

Ao invés disso, ele é um bruto com delírios de grandeza, um agressor mesquinho que se vê como um grande predador. São características patéticas de um homem perigoso, que Courtney encarna sem reservas em uma performance de força incontornável. Seu magnetismo na tela vem da dedicação ao que este personagem tem de mais repugnante, e não de uma distorção estúpida de serial-killer-galã como faria um ator com mais vaidade.

Também é por aí que o diretor Sean Byrne (Entes Queridos) guia seu trabalho, despindo Animais Perigosos de toda e qualquer pretensão para se dedicar de verdade à construção de um thriller eficiente nos moldes clássicos. Com a ajuda principalmente do designer de produção Pete Baxter (que trabalhou na franquia Matrix como artista de CGI) e do montador Kasra Rassoulzadegan (Fúria Primitiva), ele cria um filme que sabe estabelecer e explorar os seus cenários, entendendo exatamente o quanto precisamos ou não dar estofo dramático aos protagonistas, e sabendo manejar seus recursos para nos mostrar o que viemos para ver sem sacrificar a própria credibilidade.

O resultado é um filme esguio, que justamente por isso encontra espaço para se movimentar livremente por um leque tonal que inclui tanto a seriedade de sua premissa de terror quando a satisfação gregária que prometeu ao público como “o filme do serial killer do tubarão”. Por exemplo: se Hassie Harrison (Yellowstone) vive uma final girl irrepreensível, pela qual é fácil torcer, e Animais Perigosos ainda ensaia a ideia de falar sobre as defesas que mulheres levantam ao redor dos homens de sua vida, ele também sabe que não está aqui para ser um estudo social profundo sobre o tema. 

No fundo, só queremos vê-la tentar fugir incansavelmente, e falhar repetidamente, obrigando o filme a escalar suas circunstâncias a mero meio passo do absurdo. É o que o filme entrega, sem se fazer de rogado, em uma progressão que é tão previsível quanto confortável, tão simplista quanto bem executada. Até por isso, no ecossistema atual, é difícil imaginar que Animais Perigosos vá fazer tanto barulho nos cinemas – mas pode apostar que, daqui a alguns meses, ele vai aparecer no top 10 do seu serviço de streaming favorito. 

Quando acontecer, aperte o play sem medo.

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